Por: Marcia Belmiro | Filhos | 30 de agosto de 2019
De acordo com estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizado com 48 países, a incidência de bullying no Brasil é duas vezes maior que a média internacional. Na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem 2018 (Talis, na sigla em inglês), 28% dos diretores de escolas brasileiras do ensino fundamental responderam que a prática ocorre semanalmente ou diariamente nas instituições (a média mundial é de 14%). A questão é tão grave que no país o 7 de abril foi definido como Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola.
Recentemente, pesquisadores das universidades de Lancaster, no Reino Unido, de Wollongong e de Sydney, na Austrália, publicaram um estudo que acompanhou jovens durante mais de uma década. Eles concluíram que o bullying durante a adolescência causa traumas que perduram até a idade adulta. As vítimas tinham 40% mais chances de sofrer de algum distúrbio mental dez anos depois, e eram 35% mais propensas ao desemprego. Aqueles que sofreram intimidação ou discriminação de forma persistente ou violenta tiveram as piores consequências na vida adulta.
Bullying virtual
O cyberbullying — definido pela ONG SaferNet Brasil como “ato de insultar, humilhar e praticar violência psicológica repetitiva e persistente, provocando intimidação e constrangimento de crianças e adolescentes através da internet o dos dispositivos móveis” — também preocupa no país. A organização não governamental criou e coordena a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos e tem, em parceria com a Unicef, a campanha “Acabar com o bullying #ÉDaMinhaConta”. Não há dados recentes sobre esta modalidade em nosso território, mas um estudo da ONG Plan Brasil em 2010 indicou que 16,8% dos respondentes foram vítimas de cyberbullying, 17,7% foram praticantes e 3,5% foram vítimas e praticantes.
Sinais de que algo não vai bem
Em geral, quando o jovem está sofrendo bullying ou cyberbullying o comportamento dele muda. Se de repente seu filho parece constantemente triste, amuado, introspectivo, sem vontade de ir à escola ou fazer atividades que sempre lhe trouxeram prazer, é hora de acender o sinal de alerta. Há casos em que a criança ou o adolescente chega ao ponto de somatizar a tristeza e adoecer fisicamente.
Pode ser difícil falar com os pais ou professores sobre essa questão, há o medo de levar bronca ou de se mostrar vulnerável aos olhos dos adultos de quem o jovem deseja aprovação — seja um apelido ofensivo ou violência física.
Para abrir caminho para uma conversa franca, algumas abordagens são úteis. Confira as dicas de conversas que os pais podem conduzir:
– “Estamos aqui, sempre prontos a ouvir, caso alguém machuque ou ameace você.”
– “Hoje você teve algum sentimento diferente? Qual foi? Conta para mim.”
– “Se você pudesse cantar uma música agora para dizer o que está sentindo, qual seria? Por quê?”
– “Qual foi a melhor coisa que aconteceu hoje na escola? E a pior?”
Fontes:
“Prevalência da prática de bullying referida por estudantes brasileiros: dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2015”. Jorge Luiz da Silva, Wanderlei Abadio de Oliveira, Flávia Carvalho de Malta Mello, Rogério Ruscitto do Prado, Marta Angélica Iossi Silva e Deborah Carvalho Malta. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222019000200304&lang=en