Menino brinca de boneca, menina brinca de carrinho?

Menino brinca de boneca, menina brinca de carrinho?

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 25 de novembro de 2019

“A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina.”

Este texto foi escrito na revista de moda infantil norte-americana Earnshaw, em 1918. De acordo com a pesquisadora Jo Paoletti, é provável que a associação entre meninas e rosa tenha surgido na década de 1950, por causa de Mamie, esposa do presidente dos Estados Unidos Dwight Eisenhower. Ela foi à festa de posse do marido em um vestido rosa exuberante, e passou a usar a cor em muitos compromissos oficiais.

Esse é apenas um exemplo de que as regras sociais são apenas convenções, não têm qualquer sentido em si, e mudam muito historicamente e geograficamente. O mesmo se dá com as brincadeiras. A priori, não existem atividades de menina ou de menino. A brincadeira é uma forma de representação do mundo – as crianças brincam imitando a realidade.

Assim, o menino que vê seu pai limpando a casa e cuidando dos filhos deseja brincar de família, por exemplo. Da mesma forma, a menina que vê que sua mãe dirige e tem habilidade com ferramentas também leva isso para o universo lúdico. Hoje, cada vez mais os papéis sociais de gênero no mundo adulto estão caindo, mas infelizmente o mesmo não se dá em relação às crianças.
De acordo com especialistas em desenvolvimento infantil, o menino querer brincar de boneca ou a menina pedir um carrinho de presente não significa nada em relação a sua sexualidade futura – até porque existem diversas formas de masculinidade e de feminilidade possíveis.

Os pais, quando tolhem o brincar dos filhos, limitam seu aprendizado de mundo e o exercício de sua criatividade. Quando o adulto proíbe determinada brincadeira, isso diz mais dele do que da criança, de seus medos e preconceitos – muitas vezes inconscientes. Essa divisão de brincadeiras permitidas e proibidas foi criada no mundo dos adultos, e não faz qualquer sentido para a criança.

A criança traz suas vivências para a brincadeira. Ou seja, o brincar é projetivo, não determinante, e ajuda a elaborar o papel do indivíduo dentro da família e da sociedade. Assim, o menino que gosta de panelinhas pode um dia ser um pai que cozinha para os filhos. A menina que gosta de correr e subir em árvores não necessariamente será “sem modos”, mas provavelmente se sentirá livre e não vai aceitar ser o que esperam dela no futuro.

É preciso haver o rompimento de papéis que foram impostos culturalmente em outro momento histórico, atendendo a uma sociedade que não existe mais – de mulheres dentro de casa, servindo os filhos e o marido, e homens na rua, trabalhando para prover a família.

 

Fonte:

“Quando – e por que – o rosa se tornou cor de menina”. Disponível em: https://super.abril.com.br/blog/oraculo/quem-inventou-que-rosa-e-cor-de-menina/

                      

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