Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 09 de janeiro de 2020
Já ouviu alguma dessas frases dos seus filhos adolescentes? “Ela pegou minha blusa sem pedir e ainda devolveu manchada”, “Ele me fez passar vergonha na frente dos meus amigos”, “Eu quero dormir e ele está ouvindo música alta”.
As brigas entre irmãos adolescentes podem irritar bastante os pais. Aos olhos dos adultos, os motivos de disputa parecem sem importância, fúteis até. Dá vontade de dizer: “Tenho preocupações muito maiores no momento do que separar vocês dois.”
Neste momento, vale a pena parar por um segundo e fazer uma viagem no tempo, até a sua própria adolescência. Lembra como descobrir que sua blusa estava manchada no dia daquela festa especial parecia tão injusto? Ou como parecia extremamente necessário pegar a blusa da sua irmã, mesmo que ela não estivesse em casa para você pedir a roupa emprestada?
Nessa fase da vida, com tantas mudanças acontecendo ao mesmo tempo, o indivíduo está completamente autocentrado, e só consegue perceber a si mesmo – ou seja, fica muito difícil perceber as necessidades dos outros e ter empatia. Nesse caso, os pais podem ajudar os filhos a entender que é preciso respeitar o espaço alheio para que o seu espaço também seja respeitado.
Confira nossas orientações para melhorar a conexão entre seus filhos adolescentes:
– A chave aqui é a honestidade emocional. Quanto mais “protegemos” as relações, mais frágeis elas ficam. Podemos fazer uma analogia com os músculos do corpo: quanto mais trabalhamos, mais os músculos se fortalecem. Se protegemos os músculos, evitando de fazer esforço, o corpo enfraquece. Ou seja, é preciso falar sobre o que está incomodando para superar a situação. Calar só aumenta o tamanho do problema.
– No entanto, a hora do conflito pode não ser o melhor momento para isso. Em meio a uma briga, cada um quer defender seu lado. Nessa situação, chamar os adolescentes à razão pode ser inócuo. Sendo assim, espere os ânimos se acalmarem para voltar ao assunto da briga. Se isso não acontece, os irmãos podem guardam as mágoas em vez de resolvê-las.
– Uma alternativa é marcar reuniões de família periódicas. Nesses encontros, podem ser discutidas as situações de briga recentes. Mas importante: fuja à tentação de tentar descobrir quem começou ou quem é o culpado. Foque em entender os sentimentos dos dois lados e em mediar a conversa, sem escolher um lado “certo”.
– As reuniões de família não precisam ser só para resolver brigas. É possível listar os pontos de divergência mais comuns, e já definir combinados fora dos momentos de conflito. Por exemplo: o filho que gosta de ouvir música alta só pode fazer isso até as 23h, horário que o irmão precisa dormir, pois tem aula cedo no dia seguinte. Depois disso, ele se compromete a usar fones de ouvido.
– Tente não rotular (o filho “bonzinho”, a filha “desorganizada”). No livro Irmãos sem rivalidade, Adele Faber e Elaine Mazlish defendem que mesmo os rótulos supostamente positivos são prejudiciais. Os filhos internalizam estes papéis e os levam para a vida adulta, o que causa grandes prejuízos ao indivíduo.
– As autoras alertam para a necessidade que os pais sentem de tratar todos os filhos de maneira igual. Acontece que cada um tem suas necessidades, sua personalidade e seus conflitos próprios. Ao se perceberem como indivíduos únicos, que são amados em sua individualidade, a necessidade de disputa e competição entre os irmãos tende a diminuir.
– Deixe os filhos resolverem suas questões por si (exceto quando há risco de alguém se machucar, claro). Evite tomar partido ou desconfiar da capacidade dos adolescentes de se entenderem. Diga algo como “confio que vocês dão conta” e saia.
– Mesmo com muito diálogo, é provável que as brigas não acabem. Nesse caso, evite frases do tipo “vocês não têm jeito mesmo” ou “eu sabia que não conseguiriam se entender”. Em vez disso, ajude-os a focar no futuro, dizendo “o que vocês podem fazer para ser melhor da próxima vez?”. Assim, poderão aproveitar os conflitos como oportunidades de aprendizagem.
Ter um irmão é uma chance de se desenvolver junto com alguém, uma pessoa que não tem qualquer compromisso de satisfazê-lo. Nessa situação, ter a oportunidade de aprender a se posicionar vai colaborar muito para o processo de amadurecimento pessoal. Você, como pai ou mãe, já parou para pensar em como a relação com seus irmãos ajudou a moldar quem você é hoje?