Por: Marcia Belmiro | Crianças | 12 de novembro de 2020
Quando alguém próximo a uma criança morre, os pais muitas vezes acreditam que ao não falar claramente sobre isso vão proteger seu filho, mas na verdade negar a realidade é que pode gerar problemas, pois a criança começa a fantasiar, o que tende a ser bem pior.
Por exemplo, a avó está muito doente e morre. Os pais não querem abordar o assunto com medo de impressionar o filho, mas sem ter esse entendimento o pequeno pode desenvolver um medo de que seus pais morram a qualquer momento.
Os pais podem demonstrar tristeza?
É comum os pais acharem que não podem chorar na frente dos filhos, pois seria inapropriado mostrar-se vulnerável perante as crianças. Mas ao contrário, essa vivência dá aos pequenos a possibilidade de modelar comportamentos saudáveis – posto que é extremamente saudável viver o luto – e reagir melhor a situações semelhantes ao longo da vida.
Percepção infantil aguçada
No livro Como criar crianças gentis (e ter uma família mais feliz), Thomas Lickona, ao falar sobre situações de intolerância na sociedade (como movimentos neonazistas e racistas), dá orientações que podem muito bem ser estendidas para a questão do luto.
O autor diz: “Muitas vezes as crianças percebem mais do que aquilo que julgamos e precisam da nossa ajuda para processarem a informação. […] Faça-as falar; pergunte-lhes o que pensam. Ajude-as a interpretarem o que veem e ouvem.”
Orientações práticas
Marcia Belmiro orienta os pais a terem um diálogo claro com o filho enlutado: “Se a criança disser algo como: ‘Nunca mais vamos ver o vovô, né?’, o adulto deve se manter firme e responder a verdade, evitando disfarçar com expressões do tipo: ‘Vamos vê-lo sempre nos nossos corações.’ Simplesmente responda: ‘Sim, não poderemos mais vê-lo.’ Em seguida, busque o sentimento, perguntando como a criança se sente frente a isso, e acolhendo-a com palavras e gestos de carinho.”
No site Vamos Falar Sobre o Luto, o Dr. Alan Wolfelt, educador e estudioso das questões do luto, lista as 6 necessidades das crianças que passam por este processo:
1: Reconhecer a realidade da morte
As crianças tendem a aceitar a realidade da morte em “doses”. Elas permitem a entrada de “um pouco” de dor e depois voltam a brincar. Esta dosagem não só é normal mas também necessária para tornar esses primeiros momentos do luto mais suportáveis.
2: Sentir a dor da perda
Assim como qualquer pessoa em processo de luto, as crianças também precisam abraçar a dor da perda. Felizmente a maioria delas ainda não aprendeu como reprimir ou negar os sentimentos. Se estão tristes, elas geralmente se permitem estar tristes.
3: Relembrar a pessoa que partiu
Crianças em luto precisam relembrar a pessoa que partiu e precisam ajudar a celebrar a vida que essa pessoa viveu. É muito bom para a criança ver fotos ou assistir vídeos, é bom para ela contar histórias sobre essa pessoa querida que se foi assim como ouvir outras pessoas contarem histórias também. Relembrar o que houve de positivo no passado torna o futuro mais possível.
4: Desenvolver identidade própria
Parte da identidade de uma criança é formada pelo relacionamento que ela teve com a pessoa que partiu. Talvez ela tenha tido um pai e agora não tem mais, ou ela poderia ser o irmão mais velho que agora não tem mais a irmã caçula. Como mudou o sentido da criança sobre quem ela é como resultado de uma perda importante? Ninguém pode preencher para a criança a “vaga” da pessoa que partiu. Não tente achar um pai/melhor amigo/avô substituto.
5: Procurar significado
Quando alguém que amamos morre, naturalmente questionamos o significado e o propósito da vida. As crianças tendem a fazer o mesmo de forma muito simplificada através de perguntas como “Porque as pessoas morrem?”, “O que acontece com as pessoas depois que morrem? ou “O papai pode jogar futebol no céu?”.
6: Receber apoio contínuo de seus cuidadores
O luto é um processo, não um evento. As crianças, assim como os adultos, vão passar ou estar nesse processo por um tempo longo até superá-lo. A criança enlutada precisa da compaixão e da presença de um adulto próximo, não somente nos dias ou semanas após a morte de alguém querido, mas também nos meses e anos a seguir.
Fontes:
Como criar crianças gentis (e ter uma família mais feliz). Thomas Lickona, 2019. Editora Arena, Portugal.