Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 24 de novembro de 2020
O bullying, caracterizado por ser uma relação opressiva entre pares que ocorre de forma repetida, vem sendo objeto de estudo de pesquisadores no Brasil e no mundo. Os dados mais recentes em nosso país foram divulgados no início deste ano.
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), realizada com 2.702 adolescentes do nono ano em 119 escolas públicas e privadas da capital paulista, revelou que 29% deles relataram ter sido vítimas de bullying em 2019, e 23% afirmaram ter sido vítimas de violência (agressão física, com ou sem uso de armas). Além disso, 15% disseram ter cometido bullying e 19% ter cometido violência.
De acordo com essa pesquisa:
– A ocorrência de bullying e violência foi associada a fatores como o aumento do uso de drogas depressoras (incluindo álcool e tabaco), níveis elevados de ansiedade e depressão, e baixa autoestima.
– Jovens que sofreram ou perpetraram violência severa nos últimos 12 meses avaliaram pior a sua saúde em relação ao restante dos entrevistados.
– Do total de entrevistados, mais da metade dos adolescentes (59%) consumiram pelo menos uma droga depressora no último ano. O ato de beber compulsivamente ocorre em 28% da amostra.
– Houve prevalência de vítimas por bullying e por violência entre adolescentes que declararam orientação não heterossexual e/ou algum tipo de deficiência.
– Em relação à escola, descobriu-se que quanto maior o compromisso e a legitimidade atribuídos à instituição e quanto melhor a relação com os professores, menor é a frequência de bullying e violência.
– O envolvimento positivo dos pais esteve associado a níveis mais baixos de bullying, além do apoio social dos amigos.
Suporte a quem pratica bullying
Na situação de bullying, é muito comum que haja uma mobilização para dar suporte às vítimas, mas o bully (quem pratica os atos) também precisa ser apoiado. “Não existe vilão aqui”. Geralmente o agressor também está em sofrimento emocional, mas é comum que não tenha consciência disso, é como um algoz de si mesmo. Em muitos casos intimidar e ameaçar os colegas foi a única forma que encontrou de estabelecer alguma relação interpessoal, mesmo que negativa”, analisa Marcia Belmiro.
Marcia avalia que não é possível afirmar que o bully aprendeu esse comportamento na família, nem que necessariamente ele é humilhado ou criticado pelos pais. Mas podemos, sim, sugerir que atacar os demais foi a forma que encontrou de se proteger de situações difíceis pelas quais passou ou ainda passa, em qualquer âmbito de sua vida.
“A prática de bullying não tem a ver com classe econômica, social ou cultural, como muitos pensam, mas sim com como a criança ou adolescente capta a qualidade do afeto que recebe – o que não necessariamente está relacionado a receber amor dos pais e pessoas próximas. Para tratar dessa questão, muitas vezes é necessária uma intervenção psicoterápica”, observa Marcia.