Punições e recompensas: Dois lados da mesma moeda

Punições e recompensas: Dois lados da mesma moeda

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 20 de julho de 2021

Muitos pais e mães, na esperança de ensinar aos filhos a cumprirem suas tarefas e serem cooperativos, acabam prometendo recompensas às crianças e adolescentes. Os defensores dessa prática afirmam que funciona, mas o pesquisador Alfie Kohn faz um alerta em seu livro Punidos pelas recompensas:

A criança que obedece na esperança de ganhar uma recompensa ou de evitar uma punição não está, como às vezes se diz, ‘con­duzindo-se por si mesma’. Seria mais exato dizer que a recompensa ou a pu­nição a está conduzindo.”

Kohn sustenta a tese de que punições e recompensas são, na verdade, dois lados da mesma moeda. Isso porque, ao prometer algo para o filho com o objetivo de que realize atividades como estudar, organizar seus pertences e comer legumes, os pais deixam implícito que caso não façam o “combinado”, eles perderão algum privilégio (tempo extra no videogame, o direito à sobremesa ou até dinheiro). Ou seja, o que era recompensa ganha contornos claros de punição em caso de não cumprimento.

De acordo com a pesquisa de Kohn, os indivíduos que são tratados à base de recompensas (sejam crianças ou adultos) costumam fazer apenas o mínimo necessário para que a tarefa seja considerada feita, e frequentemente exigem recompensas cada vez maiores. Além disso, as recompensas geram aumento de competitividade entre os pares, o que pode minar a cooperação.

Alfie Kohn vai além, e questiona a motivação dos pais quando apostam nas recompensas e punições: “É necessário que [os pais] sejam honestos para recompensar ou punir, per­guntando-se para quem estão agindo assim (para as crianças ou para eles?) e para quê (para o desenvolvimento de valores reais ou visando à mera obe­diência?).”

Alternativas às recompensas

Em vez do sistema recompensas-punições, Kohn sugere o estímulo à motivação intrínseca, o que Daniel Goleman chamou de automotivação. Ou seja, é fazer o que precisa ser feito por compreender a importância de determinada tarefa, não para obter algo em troca. Nesse caso, a gratificação vem pelo trabalho feito em si (ex.: a satisfação de encontrar todos os brinquedos num quarto organizado), não por algo externo.

A esse respeito, Marcia Belmiro propõe o uso do reforço positivo no lugar da promessa de recompensas. Ou seja, depois que a criança tem um comportamento desejado, o adulto faz elogios específicos e verdadeiros sobre seu esforço e sobre os resultados obtidos, e pode até oferecer algo a ela, desde que não seja algo sistemático nem previamente combinado.

E quando a criança ou o adolescente não tem a atitude esperada? Nesse caso, não adianta mandar para o cantinho do pensamento, restringir o acesso à televisão ou aplicar um castigo. O melhor aqui é usar consequências. Exemplo: Se o filho deixou o quarto bagunçado e por isso perdeu o livro de matemática, ele chegará atrasado à escola ou irá sem o material.

Importante: Os pais dizem isso ao jovem não com o objetivo de humilhá-lo (com frases como “eu avisei”, ou “você é um bagunceiro”), mas de forma firme e carinhosa. Dessa forma, ele vai compreender de fato que seus pertences são de sua responsabilidade.

Fonte:

Punidos pelas recompensas. Alfie Kohn, 2019. Ed. Atlas.

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