Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 29 de novembro de 2019
Todo mundo sabe da importância de ter um bom diálogo com seu filho. Em geral, os pais conseguem fazer isso bem… até que chega a adolescência.
A cena é clássica: quando os pais chamam o jovem, o filho revira os olhos, faz cara de tédio, preguiça e desprezo – e o que seria uma conversa já ganha contornos de discussão.
Os pais dizem: “Não dá para conversar com meu filho! Tenho que repetir tudo muitas vezes. Ele diz que me escuta, mas na prática a situação continua a mesma.” O adolescente, por sua vez, costuma relatar que os pais são injustos, exigem demais dele e só julgam suas atitudes sem prestar atenção ao que ele quer dizer.
Podemos perceber aí um padrão: tanto pais quanto filhos têm uma necessidade não atendida: não se sentem ouvidos, compreendidos. Isso pode acontecer porque os pais, tentando mostrar ao adolescente a dimensão do que está acontecendo, focam no problema e não na solução, e não percebem que sua fala geralmente soa acusatória.
Objetividade x subjetividade
Por exemplo: O filho tirou nota 6 em matemática. Quando os pais falam: “Você foi mal na prova porque não estudou, passou o fim de semana todo no sofá. É sempre assim. Não sei quando vai aprender. Sua única obrigação é estudar, e nem isso faz direito.”
Ao usar palavras como sempre e nunca, abrimos espaço para o outro pensar: “Não é bem assim, na prova de história fui bem. E naquele dia eu estava cansado, por isso não consegui estudar.” A partir disso, se desconecta do que está sendo dito. Quando qualquer pessoa entende que está sendo julgada, fica na defensiva, como forma de se proteger, mas aí se fecha para as reflexões e mudanças necessárias.
Continuando com esse exemplo, a expressão “ir mal na prova” é um conceito subjetivo. O aluno pode estar satisfeito com sua nota 6, porque escapou da recuperação, porque foi uma nota melhor do que a última naquela matéria, ou porque foi acima do que a maioria dos colegas conseguiu, mas para os pais um 6 pode ser uma nota muito ruim.
E como fazer diferente?
O adolescente ainda está desenvolvendo a capacidade de abstração. Por isso, quanto mais concreta e específica for a conversa, melhor. Exponha o problema sem julgamento, se atendo aos fatos. Essa conversa poderia ser substituída por: “Você tirou 6 na prova de matemática, que é exatamente a média da escola. Se você se mantiver assim, pode se enrolar no fim do ano. O que você pode fazer para se sair melhor na próxima prova, que é daqui a duas semanas?”
Veja nossas orientações:
– Quando estiver difícil fazer essa conexão com seu filho, lembre da sua própria adolescência. Como seus pais conversavam com você? E como você gostaria que fosse?
– Trazendo para o presente, como você pode falar para seu filho ouvir? Quando ele estiver dizendo o que pensa e como se sente, procure verdadeiramente escutar e depois resumir suas ideias. Assim você vai verificar se realmente entendeu o que ele disse ou se está interpretando algo baseado em suas próprias convicções. Dessa forma o adolescente se sente acolhido e também tem a oportunidade de complementar algo que seja importante para ele.
– Escute ativamente: com interesse real, sem pensar no que vai dizer em seguida, sem querer dar uma solução pronta nem resolver os problemas do seu filho. Com a sua ajuda, ele certamente conseguirá enxergar a melhor solução.
– Em vez de dizer o que ele deve fazer, finalize perguntando o que ele espera de você nessa situação.
Quando os pais expõem os fatos sem julgamento, acreditam que o adolescente consegue melhorar e focam na solução – princípios importantes do Método GrowCoaching –, o adolescente se sente acolhido. Dessa forma, pode alcançar o entendimento das próprias dificuldades, gerando ações diferentes das atuais, e consequentemente resultados diferentes, que o levarão ao atingimento de seus objetivos.