Autoridade emocional: O que fazer quando seu filho não te escuta?
Por: Marcia Belmiro | Crianças | 19 de julho de 2018
Educar crianças certamente é um processo bastante desafiador e árduo!
Muitos pais reclamam que seus filhos não “os escutam”, não respeitam
aquilo que os pais pedem e apresentam muita resistência para realizar as
obrigações de rotina… Para superar essa dificuldade em particular, eu
trago hoje uma reflexão que estava tendo dia desses: como que os pais
podem desenvolver uma autoridade verdadeira com relação à criança,
mas sem se valer de recursos antiquados excessivamente violentos ou
traumáticos?
A partir de diversos autores da psicologia que estudam o desenvolvimento
infantil, uma coisa ficou muito evidente: a autoridade emocional só é
possível a partir da conexão verdadeira da criança com o cuidador, ou dito
em outras palavras, a partir do desenvolvimento do sentimento de
preocupação da criança com esse cuidador. D. W. Winnicott, fala que essa
habilidade diz respeito à relação do bebê com o ambiente que o cerca e
ao desenvolvimento saudável do mesmo.
Tal capacidade de envolvimento do bebê é conquistada ao longo do
processo de desenvolvimento emocional que é elaborado mais
pregnantemente na relação mãe-bebê (aqui, por ‘mãe’ entende-se a
cuidadora ou cuidador ou cuidadores mais próximo(s) do bebê). Desta
forma, por fazer parte de um processo, há alguns entendimentos que o
bebê precisa chegar antes de conseguir verdadeiramente preocupar-se
com o outro: a compreensão que há um eu e um não-eu e a vivência tanto
de pulsões eróticas como de pulsões agressivas dirigidas para a mesma
pessoa fornecendo a oportunidade fundamental para que o bebê possa
viver o que Winnicott chama de “ciclo benigno”.
[Por pulsões eróticas podemos entender a busca por satisfação pelo bebê e a busca pelo objeto amado, ou seja, o impulso que o move em direção ao que ama; já por pulsões agressivas podemos entender os complexos de raiva e destrutividade do bebê, por exemplo, quando tenta machucar a mãe ou chora excessiva e estridentemente.]
O desenvolvimento desses processos mencionados (diferenciação entre o
que está “dentro” e o que está “fora” e a ambivalência no sentir) irão dar
a oportunidade que o bebê possa viver o “ciclo benigno”, que ao se
repetir por muitas vezes irá consolidar na criança a experiência de
preocupação com o outro. Este ciclo consiste, didaticamente falando, em
5 etapas:
Agressão: o bebê dirige sua raiva, sua pulsão agressiva e destrutiva,
para a mãe (ou cuidador próximo).
Angústia: devido à ambivalência, o bebê percebe que esta mãe para
quem ele está dirigindo o seu ódio é a mesma mãe que ele ama
profundamente. Essa ambiguidade causa angústia no bebê, pois o
direcionamento de sua destrutividade pode acabar ferindo alguém.
Culpa: Diz respeito à tomada de consciência pelo bebê de que
causou mal a alguém que ele ama e isso o leva à necessidade de
retratação.
Reparação: neste momento o bebê oferece uma “dádiva” à mãe de
forma a tentar retrata sua agressão anterior. Essa oportunidade de
reparar-se deve ser oferecida pela mãe através de sua presença confiável
e estável.
Aceitação da dádiva: neste momento, para que o ciclo continue
sendo positivo, é fundamental que a mãe acolha a dádiva oferecida pelo
bebê de forma natural e amorosa, fazendo assim com que o bebê
estabeleça uma relação de confiança com o meio, compreendendo a
permanência deste meio e tolerância a sua espontaneidade.
Este ciclo logicamente diz respeito à agressividade primitiva do infante, no
entanto, quando vivido por diversas vezes com sucesso, ele garante o
desenvolvimento da capacidade da criança se importar com o outro
através da “sobrevivência” da mãe às suas agressões e possibilidade de
reparação das mesmas.
O desenvolvimento desta habilidade pela criança, alinhado ao respeito e
amorosidade dispensados a ela fazem com que a criança tenha a
possibilidade de criar vínculos profundos com seu pai, mãe e cuidadores
de forma a respeitar a autoridade dos mais velhos com base na relação de
confiança desenvolvida. Assim, é muito importante manter sempre a
tranquilidade ao lidar com a criança: ao mesmo tempo que faz-se necessário ter firmeza no tom de voz, é extremamente desaconselhável
recorrer à formas de repressão e retaliação violentas que vão levar a
criança a sentir-se inadequados e desrespeitados.
O ser humano aprende em demasia com o exemplo – acabamos repetindo
padrões relacionais e reproduzindo com outras pessoas a forma como nós
mesmos somos tratados. Fica evidente que a construção de uma
autoridade frente à criança não passa por quem “fala mais grosso”, tão
somente pela construção verdadeira de relações empáticas e respeitosas
com as crianças.