O ser humano é um essencialmente social. Isso significa que nascemos apenas com os sistemas básicos de sobrevivência, um tanto de códigos genéticos para ajudar cada um de nós a se virar, além de um pouco de predisposição a determinados comportamentos. Mas isso, por si só, não é capaz de definir nenhum comportamento que se desenvolve conforme o corpo humano vai se tornando maduro. A maior parte do que somos — como comemos, de que forma nos relacionamos, como nos vestimos ou falamos — é aprendida por meio do convívio social.
A história das meninas-lobo
Isso se torna bastante explícito na história clássica das meninas-lobo, posteriormente chamadas de Amala e Kamala, que foram abandonadas ainda bebês na floresta e criadas por uma família de lobos. Quando foram encontradas por um religioso indiano, elas foram levadas para um orfanato, onde passaram por diversas tentativas de socialização.
As meninas apresentavam comportamento igual ao dos lobos: relatos apresentam que, quando foram encontradas, elas não falavam, não sorriam e andavam de quatro. Amala, que aparentava ter apenas dois anos, morreu um ano depois de ser achada, por conta das dificuldades de adaptação à nova vida. Kamala, que aparentava ser mais velha, viveu por mais oito anos na instituição que a acolheu.
Este caso foi amplamente estudado, especialmente com a intenção de detectar algum tipo de deficiência nas meninas. Somente a partir de 2007 que especialistas descartaram a possibilidade de deficiências congênitas, afirmando que a origem da dificuldade de readaptação das meninas estava diretamente ligada à forma como foram criadas. Essa ocorrência inspirou um filme muito famoso de François Truffaut, chamado “O menino selvagem”.
Desenvolvimento infantil e egocentrismo
Considerando que o ser humano é um reflexo das relações sociais que o constituem, as crianças egocêntricas são também consideradas um reflexo do contexto em que estão inseridas. Desta forma, uma vez atentos ao comportamento de seus filhos, o melhor caminho para que os pais ajudem uma criança com comportamentos egoístas é a construção de diálogos horizontalizados. É necessário dar oportunidade para que as crianças se expressem sem serem julgadas, ajudando-as a ampliar seus padrões perceptivos por meio de perguntas específicas e exemplos verdadeiros.
Ou seja: não adianta falar “Divida o brinquedo com seu irmão ou a polícia vai levar você e te prender!”, pois isso nunca vai acontecer. Ao invés disso, você pode tentar algo do tipo: “Meu filho, seu irmão também gosta muito desse brinquedo. Me deixa muito feliz quando vocês dividem as coisas um com o outro!”. Demonstre seus sentimentos e estimule os pequenos a entrar em contato com os próprios sentimentos. Além disso, saiba ter empatia com o que eles sentem e os ajude a perceber e reconhecer os sentimentos das outras pessoas.