Excesso de informação e adolescentes: como gerenciar?
Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 26 de setembro de 2019
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018:
– Cerca de 86% das crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos são usuários de internet;
– Destes, 93% têm acesso por meio do celular, sendo para que 53% deles este é o único dispositivo para entrar na internet.
– Das crianças e adolescentes usuários de internet, 82% têm perfil em redes sociais;
– Na faixa etária de 15 a 17 anos, esta porcentagem sobe para 97%.
“Por uma questão neurológica, o adolescente ainda não tem o mecanismo de filtragem de informação totalmente amadurecido. Existe muito conteúdo à disposição na internet, mas é preciso que haja curadoria por parte dos adultos de confiança. Nem sempre há a noção exata de que certa atitude pode ser errada, configurar crime ou até provocar risco de vida”, exemplifica Flávio Mesquita, cocriador do método GrowCoaching e do programa de formação TeenCoaching.
Essa curadoria deve se dar, na prática, na forma de parceria com o jovem. Se o controle for feito de forma impositiva, provavelmente não haverá adesão por parte do adolescente. “O ponto principal é a honestidade emocional. Não dá para dizer que confia no seu filho e depois mexer nas coisas dele escondido. Ele vai se sentir traído e, para se defender, vai encontrar uma forma de burlar a supervisão”, adianta Sabrina Oliveira, cocriadora do método GrowCoaching e do programa de formação TeenCoaching.
Sabrina sugere, então, que os pais tenham uma conversa franca, na qual exponham seus receios e façam um pedido claro e objetivo ao filho. Por exemplo: “Nos preocupamos com a sua segurança na internet. Por isso, precisamos que você não acesse conteúdos impróprios para a sua idade.” Assim, o jovem se sentirá respeitado em sua individualidade, e se saberá responsável pelas próprias escolhas.
Efeitos da cultura de superexposição
“A sensação de segurança [proporcionada pelo acesso à web pelo celular] fez com que as pessoas se sentissem mais à vontade para compartilhar conteúdo íntimo. Atualmente já não há mais o obstáculo da lan house ou o computador que era compartilhado por várias pessoas em casa. Além disso, há uma cultura de superexposição e erotização precoce que estimula ainda mais essa situação”, analisa Rodrigo Nejm, diretor de Prevenção e Atendimento da ONG SaferNet, que atua na promoção e defesa dos Direitos Humanos na internet no Brasil.
A ONG registrou, no ano passado, 669 atendimentos em seu canal de ajuda sobre situações envolvendo sexting, quando jovens e adolescentes trocam imagens de si mesmos (com pouca roupa ou nus) e mensagens de texto eróticas. Com relação ao cyberbullying, foram 407 pedidos de ajuda. Desde seu início, em 2007, os números aumentam a cada ano. No entanto, para Rodrigo Nejm, ainda são pequenos diante da realidade.
Cartilha informa procedimentos de segurança para jovens na web
Com o intuito de colaborar para um uso mais responsável da web por crianças e adolescentes, a SaferNet criou, juntamente com o Ministério Público Federal, a cartilha “Diálogo Virtual 2.0: Preocupado com o que acontece na internet? Quer conversar?”, cujo público-alvo são os próprios jovens. A cartilha tem informações preciosas como as que disponibilizamos a seguir:
– O que você compartilha na internet com seus amigos não fica só entre vocês. Informações pessoais nas redes sociais se tornam públicas.
– O que você divulga na rede dificilmente será removido depois.
– Os “cadeados” e bloqueios de acesso podem ser “quebrados” por pessoas mal-intencionadas.
– Evite exibir imagens com pouca roupa ou sensuais, pessoas mal-intencionadas podem distorcer e usar suas imagens para te intimidar e ameaçar publicá-las.
– Evite usar webcam com estranhos. Sua imagem pode ser manipulada e você ser ameaçado de ter essa foto montada em situações humilhantes e divulgada entre amigos e familiares.
– Bloqueie o contato dos agressores no celular, chat, e-mail e redes de relacionamento.
– Jamais aceite convite para encontrar presencialmente um amigo virtual sem autorização. Mesmo que vá com seus pais ou adultos responsáveis, vá a local público.
– Quando um conteúdo pornográfico (foto, vídeo ou história escrita) envolve crianças e adolescentes na internet, isso é crime! Você pode denunciar no endereço www.denuncie.org.br, ligar para o Disque 100, ir a uma delegacia especializada ou se dirigir ao conselho tutelar mais próximo.