Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 30 de setembro de 2019
A dificuldade para lidar com a morte é tão mais difícil quanto mais estreitos são os laços com aquele que partiu. O luto pelos pais durante a adolescência tem características e implicações singulares por se tratar de um período da vida de muitas mudanças, aprendizado e amadurecimento, mas ao mesmo tempo de dependência emocional, jurídica e financeira das figuras parentais.
Uma pesquisa realizada no Brasil em 2018 confirmou o que já sabíamos: a maioria da população (68%) não se sente pronta para lidar com a morte – seja a própria ou a de outras pessoas. Para os autores do estudo, essa dificuldade está intimamente ligada à ausência de conversa sobre o assunto. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 79% afirmam que não falam com ninguém sobre a morte.
“A morte, apesar de ser intrínseca à vida, ainda é vista como tabu. Especialmente para o adolescente de hoje, criado para não ter decepções nem tristezas. Quando perde o pai ou a mãe, não tem maturidade para lidar com a situação. É necessário que o tema da morte seja abordado desde a infância, de maneira natural. Também é fundamental que pais e filhos possam ter abertura para declarar seu amor e conversar sobre o que os incomoda, para que no caso de uma morte inesperada não haja arrependimentos ou mágoas”, analisa Flávio Mesquita, cocriador do método GrowCoaching e do programa de formação TeenCoaching.
No artigo “Experiências de perda e de luto em escolares de 13 a 18 anos”, Basílio Domingos e Maria Regina Maluf explicam que a dificuldade de os adolescentes vivenciarem o luto existe pois este seria visto como “indigno, vergonhoso e sinônimo de fraqueza de caráter, prestando-se apenas para exacerbar desnecessariamente a dor (Ariès, 1977, 1982)”.
Domingos e Maluf defendem que “vivenciar a dor é uma condição indispensável para o início do processo de luto” e que, ao inibir sentimentos e emoções genuínos a favor da expectativa social, esses conteúdos são passíveis de serem expressos pelos adolescentes por meio de outros canais, como “agressividade, desafio a figuras de autoridade, uso e abuso de drogas (Raphael, 1983, citado em Fleming & Adolf, 1986)”. Além disso, a tentativa de evitar a dor da perda pode tornar o luto patológico – “com a intensificação, inibição, adiamento ou prolongamento das respostas decorrentes do luto em si (Middleton, Raphael, Martinek & Misso, 1993)”.
Sabrina Oliveira, cocriadora do método GrowCoaching e do programa de formação TeenCoaching, alerta que traumas relacionados ao luto devem ser tratados com profissionais de saúde capacitados para tal. No entanto, o TeenCoach pode atuar no tocante ao comportamento do adolescente, empoderando-o e ajudando-o no processo de autoconhecimento e de tomada de decisões, percebendo na situação uma oportunidade de desenvolvimento de sua autonomia.