Somatização: Seus sintomas são reais ou inventados?
Por: Marcia Belmiro | Carreira | 16 de outubro de 2020
Você já teve uma crise de ansiedade que foi qualificada como “piti”? Infelizmente isso não é incomum. Em muitos casos, pacientes são julgados como se estivessem inventando seus problemas. Mas será que isso é verdade? Será que a mente é capaz de “fabricar” doenças?
No dia 30/9 Marcia Belmiro fez uma live na qual abordou a psicossomática – ramo da psicologia que estuda a origem das doenças numa relação com a emoção e o corpo. Confira a seguir os melhores momentos desse encontro com a audiência:
“Este não é um tema tão comum de se ver na internet, mas é um tema muito importante. As doenças estão diretamente relacionadas às emoções. Isso quase todo mundo já ouviu, mas como isso se dá quase ninguém sabe.
O que é psicossomática? É uma ciência interdisciplinar que integra medicina e psicologia, e estuda os efeitos de fatores sociais (externos) e psicológicos (internos) sobre processos orgânicos e sobre o bem-estar das pessoas.
As doenças psicossomáticas são doenças aquelas causadas ou agravadas pela instabilidade emocional. Se, por exemplo, a pessoa pega Covid e cultiva pensamentos de ‘não vou sair dessa’, ‘fulano morreu, vou morreu também’, é possível que ela demore mais para dar condições ao corpo de se haver com o vírus, para se recuperar. Todo o corpo se configura em torno desses pensamentos, disparando hormônios, gerando emoções. É a interferência da emoção no corpo.
Diferentemente da somatização, que é diagnosticada por médicos quando os sintomas de uma doença se manifestam mas não são observados efeitos físicos no corpo, as doenças psicossomáticas têm efeitos verificáveis no organismo. Em ambos os conceitos existem sintomas físicos que surgem causados por situações emocionais que a pessoa vive, e não resolve.
No caso do Covid, claro que não dá para resolver a pandemia, mas dá para resolver isso dentro de você. Nesse exemplo, não dá para ficar horas e horas por dia exposto às notícias, isso de alguma forma ‘entra’ em você. Não se trata de ficar alienado, mas saber quantos são os mortos hoje ou saber detalhes do caso de tal pessoa fará com que mude algo na pandemia? Não, apenas fará com que você fique mais fragilizado.
Existe um entendimento hoje praticamente unânime de que a causa de todas as doenças se origina no sofrimento psíquico. A raiva, o estresse e a preocupação, quando não são devidamente resolvidos, acabam criando toda uma condição para que as doenças se estabeleçam e se agravem. Tomando isso por base, entende-se que as doenças físicas advêm de desequilíbrios emocionais, das emoções que não foram devidamente compreendidas, revisitadas, e portanto não foram ressignificadas. Nós estamos o tempo todo expostos não só aos nossos sofrimentos psíquicos, por questões existenciais, mas também vulneráveis às situações do ambiente – e é impossível deixar de ter situações existenciais nem dá para maquiar o ambiente. A questão é como lidar com essas emoções.
É como se precisássemos, de alguma maneira, cuidar continuamente de nós mesmos. É como se precisássemos tomar um banho todos os dias para a higienização emocional. Podemos lançar mão de vários recursos para não deixar acumular essa ‘sujeira emocional’ – porque depois que ela se acumula é mais difícil de ‘limpar’, de equacionar, de visitar essas dores emocionais.
Algumas pessoas poderiam dizer: ‘Marcia, eu não tenho isso.’ Seria a mesma coisa que dizer: ‘Eu não sonho.’ Todas as pessoas sonham, todas as noites, a gente só não lembra. O mesmo acontece com as questões existenciais. Todos as temos, em maior ou menor grau. A questão é: conseguimos equacionar essas questões, ou nós nem olhamos para elas, e fingimos (inconscientemente) que não existem, nem nos damos conta de que existem? As pessoas que têm menos autoconhecimento acreditam que têm menos problemas existenciais, e não por coincidência são as que mais adoecem.
Esses sentimentos que temos, uma vez associados aos pensamentos que são inerentes às situações que vivemos, produzem um coquetel de hormônios que sobrecarregam nosso corpo, como a adrenalina e o cortisol. Esse coquetel de hormônios pode sim abrir espaço para o acometimento de doenças e sintomas. A princípio esse acometimento pode não apresentar lesões imediatas, mas abre portas para patologias, à medida que fragiliza o sistema imunológico.
Essa afirmação é ousada, eu sei, mas vou fazê-la: Todas as doenças têm origem num desequilíbrio psicológico. As doenças são manifestações do inconsciente que está sinalizando que há questões internas mal resolvidas, e é uma opção nossa cuidar delas para termos mais saúde.
Alguns fatores que conduzem ao desequilíbrio:
– Emoções de mais ou de menos.
– Ausência de reação às situações que se apresentam.
– Resistência a mudanças.
– Padrões arraigados de pensamento e comportamento.
– Crenças autolimitadoras e que são absorvidas por nós como verdades.
– Atribuir ao ambiente e aos outros suas decisões e as consequências de suas ações.
Doenças psicossomáticas mais comuns:
– Estômago: dor e queimação, enjoo, vômito, gastrite, úlcera.
– Intestino: diarreia, prisão de ventre.
– Garganta: irritação, amigdalite.
– Músculos e articulações: tensão, contraturas.
– Coração e aparelho circulatório: palpitações, hipertensão.
– Estômago: sensação de fome, sensação de saciedade.
– Garganta: nó na garganta.
– Músculos e articulações: dores musculares generalizadas.
– Coração: dores no peito que podem ser confundidas com enfarto.
– Rins e bexiga: sensação de dor, queimação ou dificuldade para urinar.
– Pele: coceira, ardência, formigamento.
– Região genital: diminuição do desejo sexual, dores menstruais.
– Aparelho respiratório: sensação de sufocamento, tosse nervosa e falta de ar.
Ferramentas emocionais para se proteger das doenças:
– Conheça sua história de vida e descubra quais padrões adoecem você.
– Ressignifique as histórias de dor com terapias.
– Conheça a história de vida dos seus pais, de modo a compreender o que de positivo e negativo transmitiram a você. Devolva a eles tudo que não é seu.
– Relacione a doença com a parte do corpo ou função afetada, percebendo o que ela quer sinalizar (ex.: uma dor de garganta pode significar que você ‘engoliu’ alguma situação indesejada ou deixou de falar algo que estava ‘entalado’).
– Cuide-se e aprenda a pedir ajuda sempre que necessário.
– Revisite seus traumas, equacione eles (todos os temos, em maior ou menor grau).
– Perdoe as pessoas que te machucaram e liberte-se.
– Mantenha-se em harmonia consigo, com seus princípios, valores e com seu estilo preferencial.
– Saia do peso do julgamento e da comparação.
– Pare de acreditar que as pessoas estão conspirando para prejudicar você, liberte as pessoas.
– Ouça seus instintos e intuições mais do que a opinião dos outros.
– Use suas virtudes e forças em proveito próprio e das pessoas a sua volta.
– Viver para dar satisfação aos outros e atender às expectativas dessas pessoas para ganhar reconhecimento, apreciação, amor e afeto pode custar muito caro.”
“O que não se resolve na mente, o corpo transforma em doença. E como resolver? Por meio da verbalização. O que não vira palavra, vira sintoma. E preferencialmente com o apoio de uma pessoa que nos ajude a compreender o que pensamos e sentimos, e a associar o que pensamos com o que sentimos. Isso minimiza os impactos nas relações de imediato. As pessoas que têm capacidade de verbalizar o que pensam e sentem têm mais facilidade de se relacionarem consigo mesmas e com o meio externo. Não dá para saber se elas vão viver mais ou se não vão ter câncer, mas sabemos que produzem menos adrenalina, minimizando o impacto dos desequilíbrios emocionais, e consequentemente das doenças”, analisa Marcia Belmiro.