É preciso falar sobre sexo com seu filho adolescente
Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 27 de setembro de 2019
Os tempos mudaram, a relação entre pais e filhos também. Mas no que diz respeito a sexualidade, infelizmente o tabu permanece. Na sociedade brasileira, a repressão sexual ainda é forte em todas as relações, e na família não é diferente. Os resultados disso são graves: alta incidência de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez na adolescência em nosso país, além de consequências na saúde psíquica, geradas pela falta de responsabilidade emocional com o(a) parceiro(a).
Essa tirinha é, claro, de humor, mas não está tão longe da realidade assim. Na pesquisa que deu origem ao artigo “Conversando sobre sexualidade na família: olhares de meninas de grupos populares”, Sabrina Dal Ongaro Savegnago e Dorian Mônica Arpini relatam que o grupo de entrevistadas (de 13 a 16 anos) tentava conversar com os pais sobre sexo, mas eles frequentemente se esquivavam do assunto.
Savegnago e Arpini listam algumas causas para esta dificuldade de diálogo por parte dos adultos da família:
– Os pais têm pouca habilidade para o diálogo, muitos são distantes do dia a dia dos filhos, ou não são disponíveis para negociações familiares, o que dificulta a comunicação voltada para o tema da sexualidade;
– Abordar o assunto em casa seria visto como um sinal de que o sexo já estivesse sendo praticado, ou que os adolescentes tivessem interesse imediato em fazê-lo;
– É comum ainda os pais se sentirem confusos por pensarem que os filhos podem estar aprendendo “mais do que deveriam”, e que dar esclarecimentos sobre o assunto iria despertar neles ainda mais interesse pelo ato sexual em si.
No estudo “Abordagem da sexualidade no diálogo entre pais e adolescentes”, capitaneado por Inez Sampaio Nery et. al, os pesquisadores afirmam que a abordagem da sexualidade no diálogo entre pais e filhos, “quando existe, não contempla toda a temática, sendo feito de uma forma superficial e alheia às necessidades dos adolescentes. Essa deficiência é culturalmente hereditária, e possui relação direta com a forma como os pais viveram sua sexualidade quando adolescentes”. Eles indicam que “as maiores dificuldades [dos pais] foram saber quando começar o diálogo, o que abordar, e se a informação repassada estava correta. Percebe-se que os fatores culturais, religiosos e socioeconômicos influenciaram fortemente nesse momento”.
No entanto, segundo Savegnago e Arpini, a ausência de diálogo com os pais sobre questões sexuais não fazem com que aos adolescentes percam o desejo de saber sobre o assunto, pelo contrário.
“A sexualidade nessa faixa etária está posta. Não há como negá-la, ao contrário, é preciso assumir que ela existe. Com a escassez de diálogo na família, atualmente os jovens acreditam que se informam por meio do pornô, distribuído em abundância em todas as plataformas virtuais. Vamos deixar que a educação sexual dos adolescentes seja construída com base na cultura de estupro, da desvalorização da mulher e da falta de responsabilidade emocional com o(a) parceiro(a)? Não é fácil, mas é necessário tomar essa responsabilidade para si. Mesmo que haja timidez, é preciso conversar com os filhos com honestidade e escuta ativa, sem dar lições de moral”, analisa Flávio Mesquita, cocriador do método GrowCoaching e do programa de formação TeenCoaching.