Por: Marcia Belmiro | Crianças | 11 de março de 2020
“Mãe é mãe.” Na prática, o que essa frase significa para a sociedade em geral? Que a maternidade traz em si uma sabedoria inata, um amor instantâneo e instintivo, além de doses de resiliência e paciência infinitas. Sendo assim, ter filhos é a melhor coisa que pode acontecer a toda e qualquer mulher, algo sem o qual sua existência não está completa.
“Quem tem filhos sabe que a realidade está bem distante disso. Como, aliás, está distante de qualquer idealização e generalização. Da mesma forma que o filho real é tão diferente do filho idealizado – muito embora haja, sim, algo de divino em gestar, parir e cuidar de um ser por toda a vida”, pondera Marcia Belmiro.
Maternidade sem filtro
Infelizmente, falar sobre a maternidade de uma forma sincera e sem filtros (inclusive do Instagram) ainda é malvisto. Nos dias de hoje, quando uma mulher diz algo como “odeio ser mãe”, é alvejada de críticas, pois as pessoas logo pressupõem que essa mulher não ama seu filho, o que seria uma falta irreparável.
A verdade é que todas as mães, em determinados momentos, sentem raiva de seus filhos, e algumas vezes até se sentem arrependidas da maternidade. Assim como em qualquer relação profunda e real, o binômio mãe-filho não fica imune aos sentimentos ditos “ruins”.
A “mulher-maravilha”
Outro mito da maternidade é o da “mãe guerreira”: aquela que dá conta dos filhos sozinha, trabalha o dia todo e depois ainda deixa a casa brilhando, sempre com um sorriso no rosto. Coisa de filme mesmo.
Parece que quanto mais difícil é a situação, mais digna de aplausos essa mulher é. No entanto, essa romantização esconde uma mulher sobrecarregada, exausta e que lida solitariamente com responsabilidades que não são só suas, mas igualitariamente do pai das crianças.
Por tudo isso, muitas mulheres experienciam uma maternidade sofrida, mas não se sentem no direito sequer de expor suas dores, como se reclamar fosse um atestado de péssima mãe. Afinal, “quem pariu Mateus que o embale”, que “esse menino não pediu para nascer”.
E, quando cansam de se reprimir e por fim desabam, sempre tem alguém para criticar, porque afinal é preciso parecer sempre forte na frente dos filhos – como se eles não percebessem os sentimentos maternos.
No entanto, falar das dificuldades, do cansaço e da tristeza inerentes a ser mãe é legítimo, apesar dos tabus e das críticas (internas e alheias). Verbalizar suas dores é terapêutico – e não necessariamente na terapia, mas da forma que desejar, seja conversando com os amigos ou escrevendo um diário.
Desromantizar para conscientizar
Crescemos ouvindo que “se esperar demais, depois pode não conseguir mais ser mãe”, sob pena de se arrepender, mas raramente se fala da maternidade quase compulsória (resultado da pressão social, do homem que se recusa a usar preservativo ou do sistema de saúde que dificulta ao máximo a cirurgia de laqueadura) e que também pode gerar arrependimento.
Mesmo quando a mulher tem certeza de que quer ter filhos, ser responsável por um ser humano por toda a vida é uma tarefa intensa nada semelhante a “padecer no paraíso”. Quando não há essa certeza, porque a mulher tem uma ideia irreal da maternidade, ela certamente se torna bem mais difícil.
Assim, desromantizar a maternidade é importante – mais que isso, fundamental – para que cada vez mais mulheres possam fazer uma escolha consciente para seu próprio futuro e serem verdadeiramente cuidadoras conscientes, saudáveis e congruentes para seus filhos.