A criança de 3 anos, ou threenager

A criança de 3 anos, ou threenager

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 26 de fevereiro de 2020

Você prepara o café da manhã para seu filho. Está tudo bem, até que ele chega e começa a chorar e gritar que odeia aquela comida – a mesma que come todos os dias, há meses. Na hora de sair de casa, você chama o elevador. Mais birra, afinal ele é que devia ter apertado o botão. Bem-vinda aos 3 anos!

Nos grupos de mães na internet, muito se fala sobre as dificuldades dos 2 anos – fase mais conhecida como terrible two –, mas quase não se discute sobre os desafios dos 3 anos. Recentemente as crianças dessa idade também ganharam um apelido, threenagers, pois se acredita que seria uma espécie de “adolescência” da primeira infância.

O que muda?

Aos 3 anos, a criança já tem certa fluência verbal e controle motor, características fundamentais para garantir suas primeiras independências: tirar e botar a própria roupa, descascar uma banana, se servir de água, expor suas necessidades e desejos etc.

De modo geral, a criança dessa idade já não mama mais no seio nem toma mamadeira, está desfraldada, frequenta a escolinha, tem amigos e é apegada a eles. Tudo isso a faz perceber o mundo numa amplitude nunca antes vista em sua ainda curta vida.

“Há uma busca pela própria identidade, pois esse indivíduo já se entende como um ser apartado da mãe. Some-se a isso a intensa atividade sináptica – aos 3 anos, acontece um fenômeno de maturação chamado poda neuronal, que só voltará a ocorrer quando ele for adolescente. No entanto, as similaridades com a adolescência param por aí (não dá para comparar a carga hormonal, a experiência de vida já adquirida e o posicionamento social), e por isso o termo threenager não se aplica”, afirma Marcia Belmiro.

Marcia defende que o termo threenager é um estigma negativo sobre essa fase absolutamente normal na infância. “A criança de 2 anos é terrível, a de 3 anos, é tão complicada quanto um adolescente – e aí estamos rotulando também a adolescência. Quando fazemos isso, só nos afastamos de nossos filhos, de quem eles verdadeiramente são por trás do estereótipo”, esclarece a psicóloga e criadora do Método KidCoaching.

Como lidar?

A criança de 3 anos já começa a analisar as incoerências do mundo ao redor e a questioná-las (ex.: “por que algumas pessoas têm casa e outras não?’), argumenta quando é contrariada (ex.: “você foi injusta, não esperava isso de você, mamãe”) e deseja ter o controle (ex.: “hoje não quero comer isso, quero aquilo”). Tudo isso representa um grande desafio para os pais, que muitas vezes não se deram conta do salto imenso na vida do filho e não sabem como agir.

Nessa hora, sempre tem alguém que diz: “calma, vai passar”, e os pais podem cair na tentação de acreditar que, quando passar, a criança vai subitamente virar um anjo que tudo aceita e de nada reclama.

A verdade é que a vida de quem tem filhos se parece menos com a previsão meteorológica – acaba a tempestade, vem o arco-íris – e mais com um grande videogame: cada fase tem as suas dificuldades e encantamentos, e quando você acha que já viu tudo surge uma nova fase, com outras dificuldades e encantamentos (cada vez mais desafiantes e incríveis, em igual medida).

Seu filho está com 3 anos e você não sabe o que fazer? Confira aqui algumas orientações:

  • Responda às perguntas. Às vezes elas parecem insignificantes ou até engraçadas (como “o que é uma dentadura?”), outras vezes parecem complexas demais para uma criança tão pequena (como “por que eu existo?”). Na medida do possível, responda, levando a criança a refletir e tirar as próprias conclusões. E, se não souber, pode admitir, e até propor uma pesquisa num livro ou na internet. Essa é uma fase de grande curiosidade (lembra que as crianças são pequenas cientistas?), então explicar como funciona o mundo sacia essa necessidade.

 

  • Dê pequenas tarefas. Nessa idade, a criança já pode levar as roupas sujas para o cesto, colocar e tirar a mesa para as refeições, botar ração para o cachorro. Ao colaborar com a rotina da casa, o pequeno se empodera pela autonomia conquistada, aumenta seu autoconhecimento e se sente parte da família.

 

  • Ensine sobre sentimentos. Aos 3 anos a criança já sabe dizer que tem fome, mas ainda se confunde sobre estar com raiva, triste ou frustrada. Quando aprende a fazer esse tipo de distinção, fica mais fácil para o pequeno expor seu mal-estar em vez de ter uma atitude de descontrole emocional.

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