Metacognição e a melhora do processo de aprendizagem

Metacognição e a melhora do processo de aprendizagem

Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 14 de maio de 2020

Dando continuidade à série de artigos sobre metodologias ativas de ensino, o tema de hoje é metacognição. Este termo foi cunhado em 1971, pelo psicólogo norte-americano John Flavell, que o definiu como “o conhecimento que as pessoas têm sobre seus próprios processos cognitivos e a habilidade de controlar esses processos, monitorando, organizando e modificando-os para realizar objetivos concretos”. Na prática, a metacognição pode ser traduzida como “aprender a aprender”, de modo a tornar o processo de aprendizado mais eficaz.

Sabrina Oliveira, cocriadora do Método GrowCoaching e especialista em estratégias de estudo ativo, analisa: “Quando o aluno se torna mais consciente de sua própria aprendizagem, em vez de simplesmente repetir um processo-padrão sem nem pensar se ele funciona ou não, torna-se protagonista do próprio aprendizado. Os ganhos obtidos com esta técnica ultrapassam a melhora no desempenho acadêmico, mas principalmente propiciam autoconhecimento ao estudante.”

Um caminho de prazer e trabalho”

No artigo “Metacognição como processo da aprendizagem”, Beber et al. analisam que “aprender é muito mais que um processo mecânico de aquisição de conhecimento; é um caminho permeado de prazer e trabalho, em que a superação dos obstáculos deve acontecer de forma a proporcionar crescimento intelectual e emocional”.

Os pesquisadores citam Vitor da Fonseca ao afirmar que “aprender a aprender envolve focar a atenção para captar informações, formular, estabelecer e planificar estratégias para lidar com a tarefa, monitorizar a performance cognitiva, examinar as informações disponíveis e aplicar procedimentos para resolver problemas e sua adequabilidade”.


Como funciona?

De acordo com os cientistas que estudam a metacognição, quando o estudante tem uma percepção clara de suas potencialidades e limitações, pode definir uma estratégia de aprendizado mais adequada a si próprio. Beber et al. afirmam que “essa capacidade é uma competência que se constrói ao longo do processo, não é inata e nem se constitui sem ter uma intenção clara para que isso ocorra”.

No artigo, os pesquisadores explicam que, depois de definidos os limites e obstáculos do sujeito, ultrapassá-los vai depender da tomada de consciência do saber e do não saber, num processo constante de autoavaliação para alcançar a autorregulação.

Neste ponto, entra uma mudança necessária no significado do erro no processo de aprendizagem: “A condição para aprender está na mudança da concepção do erro. É no desacerto que se busca a superação da aprendizagem. O erro é um ponto de partida para aprender, […] não é sinônimo de fracasso, tão pouco insucesso, [levando em conta] que somente quem cometeu os erros pode corrigi-los.”


O papel do professor

Pode parecer contraditório, mas a teoria metacognitiva entende a participação do professor neste processo como fundamental. No entanto, seu papel não é de centro do aprendizado, mas de facilitador, auxiliando o estudante a manter sempre uma perspectiva de superação e de reflexão sobre o próprio processo, levando o aluno, dessa forma, à autorregulação.

De acordo com Beber et al.: “Em determinados contextos se faz necessária a interferência de um mediador que proporcione mecanismos de interação e superação para ultrapassar as barreiras arraigadas do insucesso. A interação pode incitar ao aprendiz reflexão a respeito das possibilidades e obstáculos a serem transponíveis para a busca do conhecimento.”

Ao educador cabe promover o questionamento, a argumentação e a análise dos conteúdos propostos, levar os estudantes a formular hipóteses, experimentar e confrontar resultados numa atitude investigativa na solução de problemas, e por fim analisar os resultados e valorizar os avanços alcançados pelos alunos. Assim, segundo Beber et al., “o aprendente que se responsabiliza por seus processos de aprendizagem passa a ser seu próprio regulador, tirando do mediador a responsabilidade pelo sucesso ou insucesso do processo de aquisição do conhecimento”.

Fonte: “Metacognição como processo da aprendizagem”. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000200007

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