Por: Marcia Belmiro | Filhos | 30 de junho de 2020
Em uma sociedade de transformações tão rápidas como a do ocidente atual, é frustrante constatar que, nas relações de trabalho, poucas mudanças aconteceram nas últimas décadas em relação à desigualdade entre gêneros. De acordo com relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado em 2018, a probabilidade de uma mulher de conseguir emprego foi 26% inferior à de um homem, uma melhoria de apenas 1,9% com relação a 1991.
A diferença entre homens e mulheres é ainda maior nos cargos mais altos, e essa distância aumenta mais levando-se em conta mulheres com filhos – a mesma pesquisa da OIT afirma que apenas 25% dos cargos de gerentes com filhos menores de 6 anos são ocupados por mulheres, enquanto a proporção de mulheres em cargos diretivos aumenta para 31% se não tiverem filhos pequenos.
Sociedade igualitária
De todos os países incluídos no estudo (entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento), a Islândia foi o único que alcançou plena paridade nas oportunidades de trabalho para homens e mulheres – não à toa o país tem a política mais igualitária em termos de licença para mães e pais após o nascimento dos filhos. No Brasil, segundo relatório da Fundação Getulio Vargas, dois anos após o fim da licença-maternidade, quase metade das mulheres está desempregada – a maior parte das saídas do mercado de trabalho se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador.
Esses dados podem ser explicados por uma estatística citada pela executiva norte-americana Sheryl Sandberg no TED “Por que temos tão poucas líderes”. Segundo Sheryl, se um homem e uma mulher trabalham em tempo integral e têm um filho, a mulher faz duas vezes mais trabalho doméstico que o homem, e cuida três vezes mais da criança que o pai. Por conta dessas diferenças, ainda hoje, no Brasil, sabe-se que gestores perguntam a mulheres em entrevistas de emprego sua idade, se são casadas, se têm filhos ou pretendem tê-los logo. Dependendo das respostas, a candidata é excluída do processo seletivo.
Quando uma mulher ultrapassa as barreiras impostas pela sociedade e alcança sucesso profissional, costuma ser valorizada por “dar conta” de tudo, sendo essa característica glamorizada e percebida como sinônimo de força. Ao contrário, de acordo com Sheryl, esse tipo de discurso só naturaliza a desigualdade e a suposta normalidade do trabalho doméstico como função feminina.
Remando contra a maré
Indo na direção contrária do senso comum, que percebe a mulher-mãe como improdutiva, existe um movimento mundial que estimula as mulheres a incluir a maternidade no currículo. A ideia é focar em todas as habilidades desenvolvidas com a chegada dos filhos e que são extremamente úteis no mercado de trabalho, como resolução de conflitos, gestão de tempo e de recursos, capacidade de lidar com imprevistos, além de aumento da criatividade, da empatia e de organização do tempo, entendendo a maternidade como elemento catalisador da potência feminina.