Como ajudar seu filho a perder a timidez excessiva na escola

Como ajudar seu filho a perder a timidez excessiva na escola

Por: Marcia Belmiro | Filhos | 03 de outubro de 2017

Vivemos numa era digital. Uma era construída e alicerçada em posts populares, fotos bonitas, quem ganha mais curtidas e quantos seguidores cada um tem. Pode ser que essa realidade ainda seja um tanto distante para muitas pessoas que nasceram antes do surgimento da Internet, mas para as novas gerações grande parte das interações sociais ocorre dessa forma, assim como grande parte das angústias também estão em algum grau ligadas a isso. Um exemplo bem prático dessas problemáticas é o número cada vez maior de jovens com dificuldades de interagir entre si devido à uma timidez extrema, paralisante.

Sobre a timidez excessiva em tempos tecnológicos

Nesse novo universo, em que vivemos através da imagem que sustentamos nas redes sociais, os jovens estão buscando cada vez mais satisfação a partir dessa lógica e se enrijecendo no que diz respeito às interações cara a cara. Esse fenômeno pode trazer uma série de dificuldades, como a timidez excessiva quando estão em situações sociais no mundo real. Não é incomum que pessoas passem horas na frente do computador conversando com indivíduos do mundo inteiro, mas quando estão na escola ou no curso de inglês, ou na reunião de família, ficam extremamente retraídas.

Tal fenômeno pode ter origem na aparente segurança que as interações virtuais passam por possibilitar ao emissor pensar, repensar, escrever e reescrever, editar e revisar várias vezes um conteúdo antes de enviar, o que não é possível na vida real. Além disso, a partir dessas imagens construídas nas redes, as pessoas frequentemente se sentem inferiores àquilo que é o “comum” e se sentem aquém do que “deveriam ser”, e acabam extremamente inseguros sobre si e sobre a forma como se colocam no mundo real, pois não se sentem capazes de cumprir a expectativa do ideal de beleza de pessoas vistas como legais e descoladas. No universo juvenil, essa lógica é ainda mais perversa, pois nessa fase as questões do grupo e do pertencimento a ele se apresentam como extremamente importantes para a construção do self.

A timidez, dessa forma, está diretamente relacionada com a construção da autoestima e amor próprio, ainda na fase de desenvolvimento da personalidade, durante a infância. Sendo a autoestima aquilo que permite o ser humano encontrar uma combinação ideal entre flexibilidade e força para enfrentar os desafios que o mundo apresenta a partir da crença em si. Acreditar na própria capacidade de realizar aquilo que deseja e de ser/estar bem e bonito em relação a si mesmo são ingredientes básicos para ser bem-sucedido nas interações pessoais além de influenciar diretamente o grau de autodeterminação e proatividade.

Como ajudar os jovens a superar a timidez excessiva na escola

O primeiro passo fundamental para auxiliar os jovens é necessariamente estar atento à sua forma de interagir com o mundo, mas sem julgamentos ou críticas. Ou seja, de nada adianta fazer comentários depreciativos ao seu filho sobre suas atitudes retraídas, muito menos piadas humilhantes das quais ele não é capaz de rir. Estar atento significa principalmente aprender sobre como o jovem se comunica, quais são suas melhores potencialidades e suas maiores fraquezas e ajuda-los a descobrir o que é que é importante na vida dele e leva-los ao encontro de novas ações para obterem o que desejam.

A partir da aprendizagem sobre a criança, desse olhar atento e carinhoso para ela, é que é possível traçar um caminho capaz de alcança-la dentro de sua fortaleza da timidez e insegurança. Pois, por mais que se viva nessa era de um fluxo intenso e globalização das informações, muitas vezes os jovens encontram-se perdidos e sem saber como lidar com essas situações que causam angústia e é aqui que esse papel familiar do afeto é fundamental.

“A formação da boa auto-estima depende profundamente do olhar amoroso de apreciação, do ser visto como pessoa de valor, com competência, no mínimo por uma pessoa significativa nos círculos de convivência. O papel de destaque nesse processo pertence à família, independente de sua composição (se com pais casados, separados, em novos matrimônios etc). A família é a principal fonte de apoio estável, que pode servir de bússola para guiar nossos passos nos labirintos da vida.”

É importante buscar um maior diálogo com os jovens para ajuda-los a perceber aquele brilho único que cada ser humano tem, incomparável, e que não existe ninguém perfeito nesse mundo (nem perto disso!). Além disso, um incentivo interessante pode ser matricular seu filho em atividades alternativas para que ele possa trabalhar esse lado social de uma forma criativa entrando em contato com suas emoções e expressões artísticas, como aulas de teatro, de dança ou de música.

Outra maneira de ajuda-lo é buscar auxílio profissional. E é importante deixar claro para o jovem (e ter essa clareza para si também!) que não há nada de vergonhoso ou humilhante em reconhecer que está na hora de ter um auxílio mais qualificado. Existem muitos profissionais preparados para ajudar sua filha ou filho a realizar essa mudança nos comportamentos indesejados que lhe causam ansiedade e outros sentimentos negativos.

O psicólogo é um bom exemplo desse tipo de profissional, que oferece um tratamento emocional para que o jovem entre em contato com todas as questões que o levam a ter este tipo de comportamento. A terapia realizada com psicólogos costuma ter uma duração extensa ao longo do tempo e seus resultados são percebidos paulatinamente conforme o tratamento avança. É importante lembrar que, embora esse tipo de profissional trabalhe diretamente com a fala, sua atuação não é substituível pelos “conselhos de amiga”; ele trabalha com uma postura clínica de atenção e escuta diferenciada sem nunca julgar ou ditar aquilo que seu paciente deve ou não deve fazer.

Outro profissional qualificado para lidar com essas situações é o Coach que, assim como o psicólogo, também trabalha com os princípios do não-julgamento e da não-interferência nas escolhas do paciente (chamado de Coachee, nesse setting do Coaching). A grande diferença deste profissional para o anterior se encontra no fato de que o processo de Coaching possui um tempo determinado para que aconteça, que é de geralmente 10 sessões. Nessas sessões serão trabalhadas junto com o jovem o objetivo que ele almeja e como ele pode realizar essas mudanças comportamentais a partir do próprio desejo e de sua singularidade.

* Labirinto de espelhos: formação da auto-estima na infância e na adolescência / Simone Gonçalves Assis e Joviana Quintes Avanci. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004.

Imagem: Tomwang112 / iStock / Getty Images Plus

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