Egocentrismo infantil: o que é e como ajudar a criança
Por: Marcia Belmiro | Crianças | 16 de maio de 2018
Visualize aquela cena clássica do parquinho: a criança escolhe seu brinquedo favorito — pode ser o balanço, por exemplo — e brinca exaustivamente nele, sem deixar nenhuma outra criança se aproximar, conversar ou usar o brinquedo. Em um outro momento, a criança está em casa brincando com seu irmão, mas não permite que ele toque em nada que é dela, fazendo um escândalo quando é contrariada ou quando é obrigada a dividir.
As situações descritas são muito desagradáveis, mas por si só não trazem grandes malefícios imediatos. No entanto, é fundamental que os adultos próximos dessa criança estejam atentos a esse tipo de comportamento e se disponham a intervir amorosamente, de modo a evitar que a criança com comportamentos egoístas se torne um jovem e um adulto egocêntrico.
Por mais que seja natural que as crianças ainda não tenham desenvolvido muito bem o senso de coletividade e, por isso, busquem mais intensamente pela satisfação de seus desejos individuais, estas são questões que precisam ser trabalhadas com a criança para que não ocorram problemas sérios no futuro.
O bebê egoísta
Esta forma de ver e conviver com o mundo é muito natural em bebês, pois o egoísmo faz parte do sistema primário de proteção do ser humano para se autogerir. Segundo psicanalistas, o bebê sente uma certa onipotência por conta da relação estabelecida entre a fome que sente e o cuidado dirigido a ele sempre que necessário.
Conforme vai se desenvolvendo de maneira saudável e aprofundando suas relações com o mundo a seu redor, o bebê começa a entender que nem tudo existe apenas atender às suas vontades. Com o tempo, ele entende que as outras pessoas também possuem necessidades e que ele não é capaz de materializar e fazer acontecer tudo aquilo que deseja. É neste momento que a criança precisa aprender a lidar com a frustração de não ter seus desejos atendidos à todo momento, pois essa é a condição humana e o princípio da realidade.
Os “reizinhos” da casa
Algumas crianças são tratadas de forma que nunca lhes falte nada, e tudo é fornecido para elas exatamente no momento em que desejam. Sempre que gritam e se descabelam por suas exigências não estarem sendo atendidas, seus pais correm logo para agradá-las ou fazer algum tipo de negociação para que se acalmem.
O que fica bastante evidente é que essa forma de a criança se relacionar com o mundo é extremamente prejudicial. Para a própria criança, os danos ocorrem porque ela se torna incapaz de reconhecer a existência de outros no mundo e as necessidades que estão além do próprio umbigo.
Para os pais e cuidadores, esse tipo de situação é prejudicial porque eles precisam passar a maior parte de seu tempo tentando fornecer tudo o que é desejado pela criança, sem nunca ser capaz de cumprir as expectativas em sua totalidade. Uma vez que a realidade não é totalmente compatível com a fantasia infantil, os pais acabam se estressando para agradar a criança, enquanto a criança permanece o tempo todo insatisfeita. Trata-se de uma configuração negativa para toda a família.
Quando a criança percebe que é o centro do universo e acredita que absolutamente tudo deve ser feito para ela, podemos falar em um possível quadro egocêntrico. O que vale destacar é que as crianças não recebem apenas influência de seu ambiente familiar, mas também de todos os outros contextos em que se insere, como escola, natação, curso de inglês, entre outros ambientes. Além disso, há um contexto mais amplo, em que a criança é influenciada pela sociedade como um todo.
Nesse mundo atual, somos constantemente estimulados para sermos vencedores. Não importa muito se você fez o seu melhor ou se está feliz com aquilo que atingiu: no contexto de competição acirrada, o que importa é sair por cima e ser melhor do que os outros. A vida social sofre diretamente com esse tipo de pensamento, e tanto o trabalho em grupo como o poder do coletivo acabam sendo cada vez menos valorizados em prol do mérito e esforço individual e solitário de cada pessoa.