Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 08 de abril de 2021
Seu filho doce e obediente foi dormir abraçado ao ursinho de pelúcia preferido e acordou reclamando do barulho em casa – embora já seja de tarde –, com o rosto tomado de espinhas, cercado por copos sujos e meias malcheirosas?
Embora essa seja uma caricatura, para muitos pais parece bem real. “O que houve com a criança que estava bem aqui?”, eles se perguntam.
Bem-vindos à pré-adolescência!
Essa etapa, que de acordo com a OMS vai dos 10 aos 14 anos, é uma fase de transição importante. Além do início das mudanças hormonais – que vão perdurar por toda a adolescência –, a pré-adolescência é um período de grande atividade cerebral, com uma verdadeira explosão de conexões neurais, sem contar com uma guinada na curva de crescimento.
Com tudo isso, é natural que os pré-adolescentes estejam com frequência cansados, impacientes – e famintos.
“Não é do dia para a noite que surgem espinhas ou pelos no corpo do pré-adolescente. Da mesma forma a transição interna é um processo, mas se os pais não ficam atentos pode parecer repentino quando um belo dia o filho diz que não quer mais ir para o sítio da família no fim de semana, ou pede para a mãe deixá-lo na esquina da escola – sem direito a beijinho de despedida”, analisa Marcia Belmiro.
Essas mudanças (tanto físicas quanto comportamentais) são naturais e saudáveis, mas para os pais pode ser difícil aceitar que não há mais uma criança ali. Por isso, muitas vezes os pais – em geral sem se dar conta disso, ou com as melhores intenções – reprimem ou ignoram os sinais dados pelo filho. Quando isso acontece, a conexão entre pais e filho se perde, e pode demorar anos para que seja recuperada.
“A ideia do senso comum de ‘deixar pra lá’, já que nessa idade eles ‘são assim mesmo’ não resolve as questões. Quando um bebê nasce, seus pais explicam o mundo a ele: o que pode e o que não pode, como é esperado que ele se comporte. Mas quando esse bebê cresce, é preciso reexplicar o mundo, que mudou e se expandiu, acompanhando as novas possibilidades que se apresentam ao pré-adolescente”, avalia Marcia.
Nessa situação, o que funciona é estar atento às mudanças e estabelecer um diálogo sincero e constante – diferente do diálogo que existia na infância – fazendo as intervenções necessárias a cada nova situação que se apresenta.
Marcia faz um convite à reflexão: “A pré-adolescência pode ser vista como o prenúncio à grande tempestade chamada adolescência, ou pode ser vivida como uma fase única e especial na vida do filho, com descobertas e conquistas fundamentais para a constituição da identidade desse indivíduo. Cabe aos pais escolher como querem enxergá-la.”