Crianças e o perigo da internet

Crianças e o perigo da internet

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 04 de agosto de 2020

De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018, na faixa etária de 11 a 12 anos, a porcentagem de crianças que teve contato com os seguintes conteúdos (nos 12 meses anteriores à entrevista) foi:

Contato com alguém que não conheciam: 23%

Formas de ficar muito magro: 10%

Formas de machucar a si mesmo: 7%

Formas de cometer suicídio: 7%

Experiências ou uso de drogas: 3%


Nos últimos anos se multiplicaram casos de indivíduos mal-intencionados cooptando crianças pela internet, com objetivos como praticar
pedofilia e até incitar o suicídio. Entre eles, os mais famosos foram os da Baleia Azul e da Boneca Momo, que geraram comoção nas famílias e até no Congresso brasileiro, que se apressou em propor mudanças na legislação.

Recentemente, surgiram denúncias de que alguém estaria operando perfis falsos usando o nome de Homem-Pateta ou Jonathan Galindo. Com uma máscara imitando o personagem de desenho infantil, essa pessoa (ou pessoas, não se sabe ao certo) estaria intimidando e ameaçando crianças.

Segundo entrevista dada pela especialista em segurança digital Patrícia Peck ao programa Domingo Espetacular, em geral esses indivíduos atraem as crianças em comentários de vídeos no YouTube ou em ambientes de jogos on-line, com promessas de dar dicas para o pequeno passar de fase mais rápido, ou como ter mais curtidas nas redes sociais. Quando conseguem a atenção de uma criança, chamam-na para uma conversa privada virtual, e aí começa o ciclo de propor desafios, assustar, extorquir e até estimular o suicídio infantil.

Na prática, no entanto, pouco foi feito em termos de políticas públicas, e especialistas levantam a hipótese de que a abordagem sensacionalista dada pela mídia possa ter o impacto contrário ao desejado, de estimular a busca de crianças e adolescentes por esse tipo de conteúdo.

Nessa situação, pesquisadores da infância como Marcia Belmiro indicam que os pais orientem seus filhos, reduzindo sua exposição nas redes e aproximando-se deles mais do que nunca. “A criança que está na internet durante muito tempo sem supervisão pode não estar tendo espaço necessário de conversa com os adultos cuidadores”, analisa. Marcia recomenda o diálogo, franco, aberto e respeitoso, no qual a família define em conjunto regras e combinados de uso parcimonioso de dispositivos como tablet e celular.

Marcia percebe que há uma certa confusão entre os pais sobre como propiciar esse diálogo. Muitos ainda repetem jargões antigos do tipo “não sou seu amigo para ficar de conversa, sou seu pai”. Mas ela propõe uma mudança de mentalidade, substituindo esse pensamento por “justamente porque sou seu pai, quero (e não preciso ou devo) saber o que você sente e pensa”. “Na medida em que a criança não sente abertura para falar com seus pais, certamente alguém vai dar essa abertura, e é provável que seja alguém de má-fé”, pondera.

No entanto, Marcia enxerga que em determinados casos pode ser necessária uma intervenção dos pais: “Se os responsáveis percebem que há algo errado, pode ser preciso agir rapidamente. É como se a criança estivesse pendurada no beiral da janela. É uma situação de risco iminente, é responsabilidade dos adultos salvaguardá-la”, orienta.

Em relação a perspectivas de futuro, Marcia crê que esse movimento não vai ter fim tão cedo. “Antigamente, havia o medo de deixar seu filho na rua e ele ser abordado por um traficante. Hoje, esse perigo ficou invisível, se esconde atrás das telas. Dar suporte aos filhos, de modo diário e contínuo, é a única forma que vejo de minimizar esses riscos”, conclui.

Fontes:

Pesquisa TIC Kids Online Brasil 2018. Disponível em: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/216370220191105/tic_kids_online_2018_livro_eletronico.pdf

Domingo Espetacular: “Homem-Pateta” assusta crianças na internet. Disponível em: https://www.facebook.com/watch/?v=324475048562011

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