A importância do teatro na escola

A importância do teatro na escola

Por: Marcia Belmiro | Educação | 28 de janeiro de 2020

Com a competitividade acirrada que existe nas escolas atualmente – cada vez mais cedo –, as atividades artísticas vêm perdendo importância na grade curricular, em detrimento do que seria supostamente mais importante: o acúmulo de conhecimento teórico, tendo como objetivo se preparar para o vestibular.

Lev Vygotsky, psicólogo estudioso da infância e da adolescência, promove uma importante reflexão que serve de contraponto a esta linha pedagógica. Ele afirma em Psicologia da arte (2001) que a expressão artística é uma necessidade intrínseca do ser humano. O autor declara que a ação completa da existência é um processo que exige a participação não só da cognição, mas também da afetividade.

No artigo “Teatro na escola: considerações a partir de Vygotsky”, Oliveira e Stoltz explicam esse posicionamento, de que o desenvolvimento do estudante implica necessariamente o estímulo do conjunto desse indivíduo: “A arte seria, desse modo, um instrumento que integraria essas duas instâncias [cognição e afetividade], uma forma de equilibrar o organismo”, por sua capacidade de elaborar sentimentos.

Estímulo à arte por meio do teatro

As autoras defendem que um dos caminhos para isso seria estimular a arte nas escolas sem se restringir à educação artística propriamente dita, como por exemplo em aulas eletivas de teatro. Além de estimular o desenvolvimento da linguagem verbal e corporal, da memória, da atenção e da organização espacial, o teatro mobiliza aspectos afetivos e sociais dos estudantes, trabalhando forças de caráter como criatividade, curiosidade, trabalho em equipe e liderança.

Conquistar mais que conteúdos

Oliveira e Stoltz vão além: “Nesse sentido, a escola pode oferecer experiências significativas aos educandos que os afetem nas esferas emocional, social, motora e cognitiva; que os motivem a buscar e conquistar muito mais que conteúdos.”

“Instigar os alunos a imaginar e criar situações, lugares, tempos, personagens, reproduzir sua criação verbal e corporalmente, movendo-se no espaço e interagindo com os colegas, e relacionar o criado aos conteúdos escolares é instigá-los a pensar e agir sobre o mundo”, completam as pesquisadoras.

A escola é, sob diversos aspectos, um laboratório para a vida. E muitas vezes é fora das salas de aula regulares que é possível vivenciar isso com mais intensidade, longe do “peso” das provas e das notas. O mais importante em uma classe de teatro na escola não é a apresentação de uma peça no fim do ano – que sem dúvida tem seu papel por ser o coroamento de todo o processo –, mas sim o trabalho em si, a construção do texto, as discussões em torno dele, os ensaios.

Para que os alunos possam aproveitar em sua totalidade as aulas de teatro, aqui vão algumas orientações:

– Deixar os próprios alunos escolherem participar ou não. A obrigatoriedade nesse tipo de aula é contraproducente e pode até desestimular aqueles que desejam se envolver verdadeiramente;

– Em especial em turmas de adolescentes, é possível aumentar a responsabilidade dos alunos (e consequentemente seu aprendizado) dividindo funções: roteiro, direção, figurino, maquiagem e, claro, atuação. Assim, são contemplados diversos perfis;

– Oferecer aula de teatro não é só disponibilizar um espaço e um monitor, é preciso haver um projeto pedagógico por trás, com objetivos definidos de acordo com a turma;

– Apesar do pensamento do senso comum de que aula de teatro é “perda de tempo de estudo”, ela pode ser, ao contrário, um espaço alternativo de aprendizado das disciplinas obrigatórias. Por meio dos textos escolhidos, é possível trabalhar conceitos de história, geografia, literatura, idiomas e, particularmente, língua portuguesa, de um jeito mais leve e talvez até mais efetivo;

– Como não se trata de teatro profissional, mas de um trabalho amador com jovens, é preciso levar em conta que não dá para haver uma cobrança pelo resultado perfeito, e tudo bem. É no erro que se aprende, e a escola é, lembrando, um laboratório para a vida;

– Às vezes, o aluno que não se destaca nas disciplinas tradicionais se encontra nesse tipo de aula. Citando a teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner, isso se aplica especialmente àqueles alunos com maior habilidade corporal-cinestésica, interpessoal e musical. Para esses estudantes, aulas como a de teatro têm um efeito de aumento da autoestima surpreendente.

Fonte:

“Teatro na escola: considerações a partir de Vygotsky”. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/n36/a07n36.pdf

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