A importância do vínculo entre pais e filhos adotivos
Por: Marcia Belmiro | Crianças | 13 de setembro de 2019
Nos últimos anos, o número de crianças e adolescentes adotados vem crescendo no Brasil, e com frequência celebridades e anônimos mostram com orgulho seus filhos “de coração”. Hoje, de acordo com o Cadastro Nacional de Adoção, a cada quatro horas acontece uma adoção no país. No entanto, estudiosos do assunto destacam que ainda há muitas questões que atrapalham o pleno desenvolvimento desses indivíduos nas novas famílias.
Segundo Surama Gusmão Ebrahim em seu artigo “Adoção tardia: altruísmo, maturidade e estabilidade emocional”, grande parte da população brasileira acredita que “crianças institucionalizadas trazem maus hábitos ao serem incluídas nos lares adotivos e que aquelas que não sabem que são adotivas tendem a apresentar menos problemas emocionais e comportamentais, sendo aconselhável, assim, adotar bebês e deles esconder a verdade” (citado em “A configuração dos vínculos na adoção: uma atualização no contexto latino-americano”, de Otuka; Scorsolini-Comin; Santos).
A importância de falar a verdade
A criação de vínculo autêntico entre pais e filhos adotivos é fundamental. Um exemplo desse vínculo é a construção de uma relação baseada no afeto, com transparência e autenticidade. O primeiro ponto é falar sempre sobre a condição de adotada, desde o primeiro dia naquele lar, mesmo que se trate de um recém-nascido. Assim, ele vai crescer sabendo da sua história real. Momentos difíceis provavelmente vão acontecer, mas qual relação familiar não tem dificuldades?
Em “Processo de vinculação afetiva de crianças adotadas na perspectiva dos pais adotantes”, Paulina; Ferreira; Bobato; Becker abordam esse tipo de situação: “A criança adotada se torna estranha no ambiente familiar, pois já foi abandonada uma vez. Por essa razão Sequeira e Stella (2014) esclarecem que frequentemente a culpa é transferida à criança, justificada pela manifestação de comportamentos agressivos, isolamento e demais atitudes difíceis de resolver. Sendo assim, deve-se escutar o que a criança diz nas entrelinhas dos comportamentos apresentados por ela, já que comumente a criança adotiva testa o vínculo com os novos pais e apresenta determinados comportamentos no intuito de certificar-se que não será devolvida, como forma de sentir-se segura.”
Casos de devolução
Não há estatísticas para o número de crianças devolvidas no Brasil. A título de exemplo, a Comissão Estadual de Adoção de Santa Catarina revelou que, em 2011, cerca de 10% das crianças abrigadas por conflito familiar seriam provenientes de adoções que não deram certo.
“Não existe ex-filho, seja ele biológico ou adotado. Não dá para adotar a postura de ‘se estiver estragado, vou devolver’, como se fosse um produto. Até porque ciência vem mostrando que a genética é cada vez menos determinante e o meio ambiente, por sua vez, mais importante, para o ser humano”, analisa Marcia Belmiro, criadora do método KidCoaching.