Por: Marcia Belmiro | Crianças | 16 de junho de 2020
Desde o início da década de 2000, o Brasil experimenta o crescimento do número de avós que conhecem seus netos, como consequência do aumento da expectativa de vida no país. Isso aliado ao fato de que hoje os idosos têm condições de saúde cada vez melhores, graças aos avanços da medicina, colabora para que mais avós tenham papel ativo na criação dos netos.
Em pesquisas recentes com avós que cuidam de seus netos como o artigo “Avós que assumem a criação de netos”, destaca-se nas entrevistas a ocorrência de sentimentos de alegria, prazer e satisfação por terem essa oportunidade. Os pais, por sua vez, se sentem seguros em poder deixar as crianças com alguém em quem confiam para trabalhar. Além disso, de maneira geral percebem que a relação entre avós e netos é benéfica para ambos.
Quando ocorrem atritos
No entanto, nem tudo são flores. Há casos em que os avós se sentem sobrecarregados com essa função, e temem não poder continuar por questões de saúde, sob o risco de deixar os netos desamparados. Alguns sentem ainda que há um descaso por parte dos pais, que poderiam assumir mais os próprios filhos. Os pais, do outro lado, se sentem desautorizados pelos avós, que têm, em sua opinião, dificuldade de dar limites aos pequenos.
Há casos em que três ou mais gerações moram juntas – por vontade ou necessidade –, e casos em que os avós moram sós com os netos, sem a presença dos pais. Este caso, abordado no artigo “Avós que assumem a criação de netos”, acontece de maneira geral quando os pais são “falecidos, despreparados por serem adolescentes ou adultos imaturos, negligentes, desconhecidos, dependentes químicos, abusadores, portadores de deficiências físicas e/ou de transtornos mentais”.
Nesse tipo de situação, em que os avós assumem a criação dos netos – com ou sem guarda sua legal –, a pesquisa de Mainetti e Wanderbroocke aponta que, apesar da opinião do senso comum de que os avós “mimam” os netos e são permissivos, citam Coutrim (2007) ao afirmar que “o rendimento escolar é o mesmo entre crianças cuidadas pelas avós em relação às demais. Embora muitas avós tenham baixa escolaridade, transmitem valores e oferecem apoio emocional às crianças sob sua tutela e isso aparece refletido no bom desempenho escolar dessas crianças”.
Protagonismo feminino
É importante falar do papel predominantemente feminino na educação das crianças na sociedade brasileira. No artigo “Avós que assumem a criação de netos”, Mainetti e Wanderbroocke corroboram essa visão, afirmando que: “As mulheres costumam ter participação ativa na vida familiar ao longo do ciclo vital e, segundo Kipper e Lopes (2006), essa participação é renovada quando se tornam avós.” Ou seja, na prática a questão fica centrada basicamente no binômio mãe-avó – os pais e avôs, quando presentes, em geral tomam papel coadjuvante.
A mãe que depende da avó para assumir os cuidados com os filhos (parcialmente ou em tempo integral) não precisa se sentir culpada por precisar dessa ajuda. Nessa situação, é natural que a avó participe da educação das crianças. É importante, no entanto, que a mãe não se furte a se posicionar quanto a seu estilo de educar.
“Para isso, é preciso, em primeiro lugar, ter seus princípios e valores claros para si mesma e, depois, promover conversas com sua mãe/sogra, de modo a deixar claro que a linha a ser seguida é ditada pelos pais, e que a estes são a autoridade principal em relação aos filhos. O mesmo se aplica à avó que entende que a filha/nora permite que ela tenha papel de mãe em seu lugar. Só quando os adultos conseguem falar francamente é possível aparar as arestas dessa relação tão linda entre avós e netos, e que pode ser benéfica para todos”, analisa Marcia Belmiro.