Como falar sobre morte com as crianças?

Como falar sobre morte com as crianças?

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 17 de janeiro de 2020

Em algum momento da vida vamos nos deparar com ela: a morte. Quando a perda acontece na infância, é muito comum os pais terem receio quanto a contar a verdade para a criança. A princípio não falar – ou não falar tudo – parece a forma correta, vantajosa e menos perigosa, mas é exatamente o contrário. É só quando o cérebro consegue compreender o ocorrido sob o ponto de vista racional que acaba o looping de emoções na mente da criança.

Em geral, os adultos não sabem lidar com a morte, e aí fica difícil falar sobre isso com a criança de maneira natural. No entanto, lidar bem com a primeira perda é importantíssimo, pois ajuda o indivíduo a elaborar os futuros lutos (inevitáveis) ao longo da vida.

Quando alguém querido morre, a criança nota o clima de luto na família, então não adianta esconder dela o que está acontecendo. Nessas situações de emoção intensa, a conversa franca e acolhedora permite que qualquer pessoa (adulto ou criança) assimile o que está acontecendo, viva isso e seja capaz de seguir adiante. O adulto, ao falar a verdade, gera a oportunidade de a criança ter alguma compreensão sobre os acontecimentos e abre espaço para ela expressar o que está pensando e sentindo. Frases como “vamos sempre vê-lo em nossos corações” não são tangíveis para a criança, e podem deixá-la ainda mais confusa.

Marcia Belmiro orienta que o adulto explique com fatos o que aconteceu, na medida do entendimento da criança: “O vovô estava velhinho e cansado, aí ficou doente e não aguentou. Não vamos mais vê-lo. Como você se sente em relação a isso?” Diante da resposta, o adulto segue acolhendo: “Entendo seu sentimento, às vezes me sinto assim também.”

Isso ajuda a criança a compreender a situação, mas não tira a saudade nem o luto (que são importantes de serem vividos). Não é aconselhável ficar tirando o foco da criança da situação que está passando, tentando alegrá-la com brincadeiras ou lanchinho. Em vez disso, lembre a ela momentos de diversão e afeto que a criança teve com a pessoa que partiu. Isso mantém a memória positiva das vivências que tiveram juntos, o que ajuda também a sentir alegria do encontro em vida, apesar da dor da perda.

Sobre a questão de levar ou não a criança ao cemitério, Marcia analisa: “Vale a pena avaliar junto com a criança sobre seu desejo e maturidade de viver essa experiência marcante. Mas essa decisão (qualquer que seja) não vai fazê-la lidar melhor ou pior com a morte. O que efetivamente vai ajudá-la é receber acolhimento e espaço para viver seu luto em segurança, tendo suas perguntas respondidas a seu tempo.”

Fonte: Vídeo “Diálogo para momentos difíceis”, integrante do programa de formação Kids Coaching.

           

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