Por: Marcia Belmiro | Educação | 28 de agosto de 2020
O professor mal deu bom-dia e a mão já está lá, levantada, à espera de um sinal afirmativo. O professor, então, suspira, e pergunta: “Você tem alguma dúvida?” É o suficiente para o aluno sabe-tudo. Ele se apruma e começa: “Essa questão me faz lembrar de uma coisa que li e achei interessante…” Depois de alguns minutos de explanação do jovem, o professor, já sem paciência, perdeu o fio da meada do que estava falando.
Essa cena soa familiar?
Marcia Belmiro analisa essa situação sob a ótica do Método CoRE KidCoaching:
“A criança e o adolescente saudáveis não têm necessidade de se expor, de ‘aparecer’ para os demais. Em alguns casos, esse tipo de comportamento pode mascarar sentimentos de insegurança e baixa autoestima vividos pelo aluno. Por trás de uma suposta superioridade – que pode incluir a prática de bullying – é possível que o jovem esteja em busca de apreciação e afeto externos.”
Existe ainda outra possibilidade que explique o comportamento do aluno sabe-tudo: ele pode ser superdotado. Nesse caso, Marcia avalia:
“O indivíduo com altas habilidades tem uma sede inesgotável de conhecimento, não para de raciocinar o tempo todo. Por isso pede a palavra em sala inúmeras vezes, até com questões que em princípio não têm relação com o que está sendo discutido na aula. Acontece que esse aluno está fazendo conexões com outros aprendizados, e não é porque possui uma capacidade além da média que não precisa de apoio do professor em seu processo de conhecimento.”
Como tratar o “sabe-tudo”?
Na análise de Marcia, em ambos os casos o ideal é que seja feita uma avaliação do estudante, de modo que ele possa ser encaminhado a um local mais adequado, se for esse o caso:
“No cenário da superdotação, o desafio do professor é estimular o aluno, não para incentivar uma competitividade, mas para ajudá-lo a desenvolver seu potencial pleno. Quando são diagnosticadas altas habilidades em um estudante, o melhor é que ele possa ir para uma classe especial, onde esse estímulo poderá ser dado corretamente. Do contrário, a criança ou adolescente pode perder o interesse pelo estudo.”
Essa questão, apesar de não ser amplamente tratada, é uma realidade entre os alunos superdotados. Pesquisas mostram que as altas habilidades, se mal conduzidas pela família e a escola, podem levar o estudante em questão a ter subaproveitamento acadêmico, em alguns casos semelhante ao de alunos com deficiência intelectual (leia mais nos links abaixo).
“No outro caso, de que a criança ou o adolescente usa o espaço da sala de aula para sobreviver emocionalmente, da mesma forma não é o professor o responsável por suprir a carência existente naquele indivíduo. Nessa situação, o aluno deve ser encaminhado a um profissional capaz de ajudá-lo nesse processo de autoconhecimento e resgate da autoestima”, indica Marcia.