Por: Marcia Belmiro | Crianças | 09 de março de 2020
Começa já na gravidez. Pessoas conhecidas e desconhecidas, nas situações mais variadas, fazem perguntas, comentários e dão palpites não solicitados à futura mãe: “parto normal é do tempo das cavernas”, “cesárea não é parto”, “a amamentação deve ser exclusiva a qualquer custo”, “as fórmulas de hoje têm a mesma composição do leite materno, não faz sentido amamentar”, “engravidou porque quis ou foi descuido?”, “engravidou naturalmente ou fez tratamento?”, e por aí vai.
Quando o bebê nasce, as opiniões externas continuam: “tem que ferver a água do banho”, “com certeza esse choro é de fome”, “bota uma meia nessa criança, vai pegar pneumonia”. E, com o passar do tempo, os palpites seguem, firmes e fortes, só mudando de teor: “você parou de trabalhar para ser mãe profissional?”, “fica o dia todo fora e só vê seu filho à noite?”, “ele come muita besteira, vai ficar obeso”, “ela é tão magrinha, deve estar desnutrida”, “daqui a pouco essa menina está botando você no bolso”, “se você acha que tá difícil agora, espera chegar a adolescência”…
O peso da opinião alheia
Olhando de fora, pode até parecer engraçado, mas não para os pais. Segundo pesquisa publicada na revista norte-americana Time, 30% dos millenials (pessoas nascidas entre as décadas de 1980 e 1990) se preocupam com o julgamento dos outros pais sobre a alimentação dos seus filhos. É quase o dobro da geração passada (17%) e o triplo da anterior (10%).
A pesquisa não fala sobre as causas para o aumento do desconforto em relação aos palpites, mas podemos supor aqui que os millenials, que de modo geral cresceram comendo o petit suisse “que vale por um bifinho” e outras coisas nada saudáveis, perceberam os danos disso e, hoje, se preocupam mais com o que dão para seus filhos.
A mudança de mentalidade no quesito alimentação foi acompanhada de outras transformações no modo de criar os filhos. Hoje já se sabe da importância de uma educação mais participativa, sem palmadas nem autoritarismo, e tudo isso se choca com o que é tido como “normal” pelo senso comum.
Firmeza de propósitos
Afinal, como agir diante de opiniões não solicitadas e muitas vezes até grosseiras? Em primeiro lugar, tendo clareza de seus princípios, do que é importante para sua família, sem se deixar influenciar pelo que os “especialistas da vida alheia” dizem.
Mesmo quando há pessoas que ajudam a criar a criança (parentes, padrinhos, babá), é possível dizer, com firmeza e tranquilidade, algo como “agradeço demais pela sua ajuda, mas eu sou a mãe e vai ser do meu jeito” quando a intromissão for excessiva.
Educar tem receita?
Criar filhos não é uma ciência exata. Na maioria dos casos não existe certo nem errado, mas o que funciona melhor em cada contexto. Além disso, aquilo que resolveu todos os problemas da prima da sua vizinha pode não funcionar para você (na verdade é mais provável que não funcione), independentemente de ela ter compartilhado sua experiência com a melhor das intenções.
Se bater uma insegurança diante da crítica externa, reflita se pode mesmo haver algum problema com seu filho ou se é só uma necessidade de agradar os outros. Se seu filho está crescendo, se desenvolvendo saudavelmente, é feliz e seguro, não há com o que se preocupar. Caso tenha dúvidas sobre a conduta a seguir, procure um profissional competente (pediatra, fonoaudiólogo, psicólogo, KidCoach) ou alguém que você sabe que pode ajudá-la sem julgar sua forma de criar o pequeno.