Como o KidCoach pode ajudar crianças com dificuldade para dormir?

Como o KidCoach pode ajudar crianças com dificuldade para dormir?

Por: Marcia Belmiro | Carreira | 10 de abril de 2020

É muito comum haver crianças que não conseguem dormir na própria cama, apesar de desejarem isso. Especialmente quando são pequenas, pode ser difícil para elas explicar quais são as seus medos e dificuldades. Para auxiliar as crianças e seus pais, Marcia Belmiro criou a Técnica Monstruosa, adequada a partir de 7 anos de idade.

Acontece que Rafael, de 4 anos, neto da Marcia, estava passando por uma fase bem difícil em relação ao sono. Ele tinha medo de um monstro, ao qual deu o nome de Fortudo – nas palavras do menino, o monstro era pequeno, já que podia até passar pelo buraco da fechadura, mas era bem forte.

Marcia, então adaptou a Técnica Monstruosa – que normalmente é aplicada no Método Formal, dentro do coachtório – para o Método Informal, mais adequado à idade do menino.

Confira a seguir o relato de Marcia sobre este episódio:

Rafael, meu neto, estava com dificuldade de dormir na caminha dele. Como ele ainda está com 4 anos, procurei fazer uma adaptação da técnica, por meio de conversas inseridas na rotina dele.

A Técnica Monstruosa é elaborada, requer uma determinada abordagem e a construção de um material que a própria criança faz, com o auxílio de uma série de perguntas do Coach, mas Rafael ainda não tem prontidão para esse tipo de interação. Sendo assim, fiz uma abordagem mais indireta.

Ao todo foram três conversas: duas comigo e a outra com o meu marido, que também é KidCoach. Nós fomos ajudando Rafael a elaborar e construir uma forma de ele poder lidar com a situação do Fortudo. Quem era o Fortudo? Um monstro que ele tinha imaginado, que entraria na casa dele. E era esse o motivo pelo qual ele não conseguia dormir na própria cama, indo várias vezes ao longo da noite para a cama da minha filha e do meu genro.

E eu sei o quanto isso cansa enormemente os pais, que no dia seguinte têm um dia cheio pela frente, precisam trabalhar. Além disso, a criança também quer dormir na própria cama. Foi muito interessante que, por meio de boas perguntas que fizemos, Rafael criou, com a imaginação dele, uma armadilha para evitar que esse Fortudo entrasse na casa.

Nessas conversas, usamos diversas abordagens, sempre acolhendo o medo, a dificuldade da criança, sem dar a ele instruções ou respostas do tipo “faça isso, faça aquilo”, mas ajudando Rafael a pensar que coisas poderiam ajudar ele a controlar esse monstro imaginário.

Em uma conversa dessas que tivemos na minha casa, ele coletou vários fios e cordas que poderiam ser usados para fazer a armadilha. E assim ele fez. A armadilha que ele criou é algo infantil, mas foi o suficiente para ele criar uma condição de ter controle sobre algo que estava controlando a cabecinha dele, atrapalhando o sono dele.

Exatamente a partir daquela noite que ele fez a armadilha começou a dormir na própria cama. E o mais legal: sem se sentir amedrontado. Uns dias depois, estávamos conversando e pintado um quadro na minha casa, eu perguntei: ‘E aí, como está isso?’ Ele respondeu: ‘Não tem mais nada, o Fortudo não está entrando mais.’ Ou seja, não havia mais a possibilidade, na imaginação dele, de esse monstro tomar conta do menino, pois ele tinha o domínio da situação.

Nesse tipo de situação, negar o sentimento infantil não ajuda, tampouco ajuda dizer: ‘vá pra sua cama, não tem nada lá’. O que funciona é acolher o sentimento, acolher a criança com suas sensações e dificuldades. Isso é diferente de dar margem a ela acreditar que existe um monstro, mas acolher que dentro da imaginação dela aquilo é real.

E quando a gente não ridiculariza, não ignora, mas acolhe, a gente ajuda a criança a fazer uma construção dentro da sua própria mente do quanto pode lidar com as situações difíceis que ela própria criou. Rafael tem dormido muito bem, e isso tem sido um sossego para ele (porque no dia seguinte ele também ficava muito cansado, numa exaustão de ficar para lá e para cá a noite toda), e também para minha filha e meu genro, que agora podem dormir melhor.”

Agora confira o diálogo entre Marcia Belmiro e Rafael, depois da armadilha criada por ele para afastar o Fortudo:

Marcia: Lembra daquela armadilha que você fez contra o Fortudo?

Tomás (irmão do Rafael): Ele botou um palitinho de dente.

Marcia: E deu certo? O Fortudo não entrou mais? Me conta como foi.

Rafael: Eu estava dormindo. Aí quando ficou de manhã eu fui para a cama dos meus pais, só de manhã!

Marcia: Ou seja, você dormiu a noite inteira. Nossa Rafa, mas que bom para você!

Rafael: Eu só vou tirar [a armadilha] quando passar o meu medo.

Marcia: Então você ainda tem medo, é isso?

Rafael: Aí eu vou trazer as cordas [de volta] para cá [casa da Marcia], vai ter muita corda!

Marcia: Mas não tem problema, aquelas cordas podem ficar lá com você. Fica tranquilo sobre isso. O que eu quero saber é o seguinte: Do jeito que você prendeu sua armadilha o Fortudo não entrou mais?

Rafael: (Faz que não com a cabeça) Ele se espetou!

Marcia: Tá pensando que ia te chatear de novo, né Rafa?! Não entrou esse Fortudo bobalhão!

Tomás: A armadilha estava por dentro.

Marcia: E se ele entrasse, o que iria acontecer?

Rafael: Ele iria ver uma sombra de armadilha.

Marcia: E aí?

Rafael: Aí ele iria fugir.

Marcia: Ele iria fugir, e você nunca mais precisaria sair da sua cama, né Rafa?

Rafael: Eu só posso ir para a cama dos meus pais quando estiver de manhã.

Marcia: E também não está mais precisando, né Rafa? Porque agora você fica legal na sua cama, não é isso?

Rafael: Sim.

                      

Matérias Relacionadas

Cama familiar: solução ou problema?
Alfabetização na pré-escola é válido?
Criança birrenta: como lidar com as birras no dia a dia