Por: Marcia Belmiro | Crianças | 16 de outubro de 2019
De acordo com os dados do IBGE, as famílias recasadas no Brasil, que representavam 13,4% da população em 2002, subiram para 16,1% em 2007 e, em 2012, passaram a representar 21,8% da população. Em muitos casos, há filhos de outros relacionamentos, criando a chamada família-mosaico.
No artigo “Repercussões da parentalidade na conjugalidade do casal recasado: revelações das madrastas”, as autoras analisam que “os sujeitos passam a desempenhar múltiplos papéis sem que tenham tido tempo para se adaptar a eles. Nesse escopo, a conjugalidade é perpassada, simultaneamente, pelas demandas parentais relativas aos filhos de casamentos anteriores e por possíveis repercussões da conjugalidade anterior”.
Cinco desafios na relação
Nessa dinâmica, em que diversos relacionamentos são inaugurados ao mesmo tempo em que o casal está constituindo a sua identidade conjugal, Patricia Papernow, no livro Surviving and thriving in stepfamily relationships – What works and what doesn’t, apresenta cinco desafios enfrentados pelos membros da família recasada:
– O sentimento de inclusão/exclusão vivenciado pela madrasta e pelo padrasto, no que diz respeito à dinâmica familiar anterior;
– Os conflitos de lealdade vivenciados pelos filhos/enteados;
– As tarefas parentais polarizando o novo casal;
– A criação da nova identidade familiar;
– A inclusão do ex-cônjuge nas questões pertinentes aos filhos do casamento anterior.
Para os enteados, pode ser difícil ter que conviver pela primeira vez na vida com alguém de fora da sua família de origem e, pior, que é a materialização de que seus pais não estão mais juntos. Para a madrasta ou padrasto, é natural criticar os comportamentos de crianças educadas sob valores e regras diferentes dos seus. Já o pai ou a mãe que se casa novamente pode se sentir dividido entre as duas partes. Aqui, é preciso lembrar que a condução deve ser dos adultos da relação, mas acolhendo os sentimentos das crianças, que não escolheram estar nesse cenário e ainda estão desenvolvendo sua maturidade.
Rumo a uma convivência de harmonia
Numa situação como essa, potencialmente conflituosa e propícia à competição entre enteados e madrastas/padrastos, o primeiro passo é admitir que há uma questão a ser tratada. Aqui, as ferramentas da comunicação não violenta podem ser de grande utilidade. Nos pequenos impasses do dia a dia, vale exercitar os quatro passos da CNV – observar a situação sem julgar; identificar o próprio sentimento; perceber a necessidade não atendida; fazer um pedido.
Dessa forma, é possível dar o primeiro passo rumo a uma convivência mais harmoniosa em empática, servindo como exemplo positivo para os demais integrantes da família. E não é porque o processo de adaptação é difícil que as pessoas separadas devem desistir de seus projetos de vida. Todos merecem buscar a própria felicidade, desde que respeitando a si mesmo e aos demais.