Existe filho favorito? Vamos falar sobre esse tabu

Existe filho favorito? Vamos falar sobre esse tabu

Por: Marcia Belmiro | Educação | 17 de fevereiro de 2020

Se fizermos uma pesquisa com mães e pais perguntando se têm um filho favorito, provavelmente a resposta da maioria será “não”. No entanto, se questionarmos essas mesmas pessoas sobre sua percepção a respeito da conduta de seus pais, a maior parte vai responder que percebia haver um filho favorito entre seus irmãos.

O favoritismo por um dos filhos é um tabu que acompanha as relações familiares há gerações. Todos sentem que ele está ali, mas ninguém fala sobre o assunto. No entanto, essa é uma questão séria, que precisa ser discutida.

Um estudo realizado em 2010 por cientistas das universidades de Cornell e Purdue, nos Estados Unidos, sugeriu que a percepção de favoritismo por um filho pode reduzir a probabilidade de irmãos se apoiarem quando passam por crises na idade adulta.

Em uma rápida busca na internet sobre o tema, aparecem diversas reportagens defendendo que o filho preferido existe sim, e que isso deve ser naturalizado. No entanto, é possível perceber essa questão de uma forma diferente, mais respeitosa e empática.

Favoritismo ou afinidade?

Do mesmo modo que cada relação que temos com amigos, por exemplo, é diferente, a relação com cada filho também será única. Existem características e situações que aproximam a mãe mais de um filho que de outro – e essas circunstâncias mudam ao longo da vida.

A isso se chama sintonia, não favoritismo, e não é preciso sentir culpa por isso. Por outro lado, agir como se essa afinidade não existisse pode gerar insegurança nos filhos – e é partir daí que surge o ciúme e a disputa por quem seria supostamente o predileto, quem receberia mimos e benefícios dos pais.

Confira aqui nossas orientações para ter uma relação mais saudável com seus filhos:

  • Fale abertamente sobre a situação. A honestidade dos pais diminui as fantasias na cabeça dos filhos. Deixe os pequenos se expressarem sobre isso, e fale também sobre seus sentimentos de maneira clara. Por exemplo: “Gosto muito de pintar, como seu irmão, e isso nos aproxima naturalmente. Mas também podemos ter uma diversão só nossa. Que tal passearmos de bicicleta?”
  • Não compare. O filho cujos pais comparam constantemente usando o irmão como exemplo se sente desvalorizado, como se nunca fosse bom o suficiente. O tratamento entre os filhos (independentemente da diferença de idade) não precisa ser igual, mas deve ser justo, respeitando as necessidades individuais. Um exercício interessante é, quando for chamar a atenção de um filho, tente não usar o nome dos outros. Assim, ele vai se sentir olhado pelo que é verdadeiramente, não em comparação aos demais. Isso também vale para os elogios.
  • Sempre que puder, separe algum tempo de qualidade com cada filho. É uma oportunidade de ele se sentir especial e de você conhecê-lo melhor.
  • Demonstre amor também na dificuldade. Há uma tendência natural nos pais de apreciarem naquele momento o filho que está cumprindo suas expectativas, que “não dá trabalho”. No entanto, geralmente quando alguém está mais difícil de amar é que precisa se sentir mais amado.
  • Não rotule. Ter mais de um filho faz você perceber que aquele considerado mais “difícil” é o que mais te faz crescer. Se fica presa à dicotomia do “filho bonzinho” e do “filho malvado”, a mãe perde uma grande oportunidade de mudar seus conceitos e se tornar uma pessoa melhor. Além disso, as crianças e adolescentes podem acabar se “moldando” para caber no espaço destinado a si, em vez de aproveitar a convivência com os irmãos para se apoiarem mutuamente e evoluírem.

Fonte:

“The Role of Perceived Maternal Favoritism in Sibling Relations in Midlife”. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2810864/

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