Por: Marcia Belmiro | Crianças | 24 de outubro de 2019
Foi-se o tempo que só os adultos tinham problemas de peso. Hoje, a obesidade infantil é tratada como epidemia mundial, e distúrbios como dismorfia corporal – quando a pessoa vê seu corpo diferente do que é na realidade – aumentam entre as crianças. Essas doenças são intimamente ligadas a outros problemas psíquicos cada vez mais frequentes, como ansiedade e insônia.
Alguns dados recentes:
– No Brasil, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso, e 12,9% estão obesas.
– O número de indivíduos obesos de 5 a 19 anos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas.
– Quatro países das Américas, entre eles o Brasil, estão entre os dez primeiros no ranking de obesidade no mundo, e esta já é a maior ameaça nutricional na América Latina e no Caribe.
– Crianças acima do peso têm 75% mais chance de serem adolescentes obesos, e estes têm 89% de chance de serem adultos obesos.
– No mundo, 40 milhões de crianças de 0 a 5 anos estão na faixa do sobrepeso.
– Estudo realizado na Austrália afirma que 38% das meninas de 4 anos estão insatisfeitas com o próprio corpo.
– Outro estudo, brasileiro, mostra que 82% das crianças de 8 a 10 anos desejam uma silhueta diferente da atual.
Para além da questão genética – que não pode ser alterada –, no âmbito cognitivo-comportamental muito pode ser feito para auxiliar a criança que sofre com a obesidade e outros distúrbios relacionados à alimentação.
Nesse processo, a atuação dos pais é fundamental. Importante: sem ameaças (como “se você não comer direito, vai parar no hospital”), barganhas (“se você fizer tudo certo, vou te dar um presente”) ou punições (“se você descumprir minhas ordens, vai ficar de castigo”).
Então como isso é possível alterar essa situação de descontrole?
Por meio de boas perguntas, que levem a criança a se dar conta da situação atual, e das consequências futuras naturais – como precisar tomar medicação para baixar o colesterol – caso nada seja alterado. Para conseguir a adesão de seu filho, a palavra-chave é protagonismo. Uma dieta imposta, cheia de regras e proibições, dificilmente vai funcionar. É preciso encontrar junto com a criança formas de criar e manter melhores hábitos. Esse trabalho é paulatino, e cada pequeno avanço pode e deve ser comemorado.
Outros distúrbios alimentares
Já se sabe que as experiências de ordem afetiva e social são os principais fatores que influenciam o comportamento alimentar. Na infância, os indivíduos aprendem como a sociedade funciona e quais são os valores de seu núcleo familiar. Essas informações vão moldar sua própria visão de mundo. Quando a filha ouve a mãe dizer o tempo todo que está gorda, que precisa tomar vergonha na cara e fazer dieta, assimila crenças como “ser gordo é ruim”, “só tem valor quem é magro”.
Esse tipo de comportamento pode gerar distúrbios alimentares, como dismorfia corporal, anorexia e bulimia. Nessas situações, os pais podem ajudá-la a se valorizar, não só fisicamente, mas mostrando à criança que o padrão de beleza imposto é inatingível para a maioria das pessoas, e que outras características – como ter boa saúde, caráter, ética e generosidade – são mais importantes.