Oito “neuras” dos pais

Oito “neuras” dos pais

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 07 de agosto de 2020

Recentemente Marcia Belmiro fez uma live no Instagram do @institutoinfantojuvenil com o tema “Oito neuras dos pais”. Nesse encontro com a audiência, a criadora do Método CoRE KidCoaching listou as preocupação mais comuns, e como mães e pais podem se livrar desses comportamentos que os afastam de suas crianças.

A seguir, transcrevemos os melhores momentos dessa live:

Na educação dos filhos, é normal haver dificuldades na rotina, e isso acontece desde a hora que nasce aquele pequeno serzinho. Alguns pais ficam perdidos nesse manancial de situações e demandas, por isso provoco uma reflexão: O que de verdade faz parte do conjunto de cuidados necessários na criação dos filhos e o que não faz?

Em primeiro lugar, listei as oito principais preocupações dos pais que entendo como legítimas:

  1. Qualidade do sono;
  2. Saúde em geral (incluindo alimentação adequada);
  3. Risco de abuso sexual;
  4. Conteúdos e perigos da web;
  5. Segurança nas grandes cidades;
  6. Envolvimento com drogas;
  7. Estresse e depressão;
  8. Violência e bullying na escola.

Por outro lado, existem algumas questões mais ligadas a dificuldades dos pais do que a problemas com as crianças. São comportamentos que, se revisitados e discutidos, podem ajudar os pais a terem mais tranquilidade e resultados com seus filhos.

Oito “neuras” dos pais:

1. Meu filho não come nada!

Muitas vezes a criança não come na quantidade ou com a variedade que os pais gostariam ou esperavam. Quando existe uma angústia muito grande sobre a alimentação, em geral ela tem mais a ver com a percepção dos pais que com a realidade. Se os exames da criança estão normais, talvez esse seja o normal daquela criança.

2. Será que estou fazendo tudo certo?

Como pais, nunca vamos fazer tudo certo, até porque não dá para parametrizar o que é o “certo”. O que se pode avaliar é o que está funcionando com meus filhos, o que traz bem-estar a nossa família. Essa expectativa tão alta sobre si mesmo gera muita angústia, que pode até ser prejudicial.

3. Só eu sei cuidar bem do meu filho.

Quando uma criança é pequena, há uma grande quantidade de atividades diárias a serem feitas: alimentar, dar banho, colocar para dormir, brincar. O pensamento de que só uma pessoa sabe cuidar bem dela traz uma sobrecarga desnecessária a esse adulto. Além disso, tira a oportunidade de o filho desfrutar do afeto de outras pessoas.

4. Às vezes tenho sentimentos ruins pelo meu filho, não sou uma boa mãe…

Para o senso comum, ter momentos de raiva, irritação ou incômodo em relação ao filho significa não ser boa mãe. A dificuldade de lidar com esses sentimentos está ligada à percepção materna do que é certo e socialmente aceitável, e quando esses sentimentos aparecem, a mulher se culpa injustamente. Mas não existe relação profunda sem esses sentimentos, e tudo bem.

5. Será que estou dando tempo suficiente para meu filho?

Não existe regra ou padrão para isso, nem algo que funcione sempre. Também não adianta brincar à força. Em vez disso, proponho que a pergunta seja: Quanto tempo tenho (inclusive em termos de disponibilidade emocional) para essa troca, de uma forma inteira, presente? Quanto tempo quero (e não preciso) estar com meu filho?

6. Meu filho é normal?

Às vezes os pais nem levaram a criança a um especialista, mas têm certeza de que há algo errado. Mas a criança em questão não necessariamente tem TDAH, hiperatividade ou autismo. Pode ser só uma criança com mais vivacidade ou que pensa fora dos padrões. Existe hoje na sociedade uma normalização do hiperdiagnóstico e da hipermedicalização de crianças, e é preciso atenção para não cair nessa armadilha.

7. Se meu filho se comporta mal, o que vão pensar de mim?

Qual a importância que tem para você a opinião dos outros sobre a sua maternidade? O mais importante é o que você pensa sobre si, como pessoa e como mãe. Pense no quanto você se dedica a seu filho, e procure melhorar no que acha que pode. O que você entende que é ser uma boa mãe? Aquele padrão de “padecer no paraíso” não faz bem a ninguém. A boa mãe é aquela que está atenta, que cuida do filho, mas que também erra.

8. Meu filho tem que se destacar, ter sucesso, ser o melhor, me dar orgulho…

Alguns pais querem ser reconhecidos não pelo que são, mas pelos filhos que têm. Essa não é uma questão da criança, mas quando essa criança percebe essa necessidade, isso pode criar nela uma tensão e um desgaste desnecessários para corresponder às expectativas dos pais.

Saídas para as neuras:

1. Analisar se a preocupação tem alguma evidência ou base real ou não.

Às vezes os pais não conseguem equacionar alguma questão simplesmente porque não há nada a ser equacionado. Na dúvida, procure um profissional qualificado para obter um diagnóstico.

2. Acreditar em sua capacidade de interagir e estabelecer novos padrões de comunicação com seu filho.

3. Não repetir dentro de casa o que deu certo com os outros.

Sua família não pode ser comparada à de ninguém. Encontre o que funciona dentro dos seus princípios e valores.

4. Entender que as pessoas próximas (pais, sogros etc.) querem contribuir por amor a você e à criança que chegou na família.

É possível simplesmente agradecer e aproveitar a orientação quando esta fizer sentido para você. E, quando não fizer, expressar que aprecia o cuidado deles, mas que gostaria de seguir do jeito que você entende que deve ser. Além disso, essas outras pessoas vão encontrar seu filho esporadicamente, no fim de semana. Se a intenção é boa e não vai prejudicar seu filho, aproveite o momento de descanso.

5. Fazer ajustes sempre que necessário.

Quando perceber que uma intervenção ou interação com a criança não foi bem-sucedida, altere sua rota e siga com tranquilidade. Não existe uma verdade única e absoluta para criar filhos, e mesmo que um estilo tenha dado certo com o primeiro filho, não é garantia que dará certo com os demais que vierem.

6. Ter uma experiência de vida significativa e alegre com cada filho.

Existe a ideia de que ser mãe é “padecer no paraíso”, mas a maternidade não precisa ser um padecimento, tampouco existe esse paraíso hipotético em qualquer aspecto da vida.

Tem gente que só ri e se diverte fora de casa, entende que para criar filhos é preciso ser sério, do contrário as crianças “deitam e rolam”. Mas é possível ter bom-humor em casa. O que é realmente importante na sua vida?Você gostaria de se divertir dentro de casa? Você pode e deve fazer isso.

7. Acreditar que a maternidade é um treino contínuo.

Você não tem obrigação de nascer sabendo tudo ou de acertar em tudo com os filhos. Ninguém nasce mãe, esse é um aprendizado.

8. Confiar em seus instintos.

9. Não se comparar com os outros.

Mas, antes, se contactar consigo mesmo, com seus princípios, valores pessoais e com o que você pensa e acredita que realmente é bom para seus filhos.

10. Equacionar razoavelmente suas experiências passadas com seus pais.

Quando repetimos ou quando refutamos com veemência o que nossos pais fizeram, ainda estamos no mesmo referencial. Ao libertarmos nossos pais do julgamento e ao elaborarmos as vivências doloridas da nossa infância como filhos, poderemos nos libertar para agir como nós mesmos, e não como nossos pais.

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