Puerpério: a montanha-russa de emoções no pós-parto

Puerpério: a montanha-russa de emoções no pós-parto

Por: Marcia Belmiro | Filhos | 15 de fevereiro de 2021

Hoje em dia é comum que as grávidas se preparem para o nascimento do bebê: definem se desejam parto normal ou cesárea, contratam uma doula, fazem cursos e exercícios específicos para esse momento. No entanto, ainda é raro que haja uma preparação equivalente para o puerpério – apesar de um parto durar, em média, algumas horas, e o puerpério, vários meses.

O termo puerpério já é usado na medicina há tempos para designar o período imediatamente após o parto, com suas particularidades físicas e hormonais – com atenção especial ao resguardo, período em que os médicos não recomendam relações sexuais.

Recentemente, entretanto, esse termo vem sendo usado para se referir a um momento da vida da mulher que se inicia após o nascimento do bebê, mas que pode durar até dois anos, de acordo com alguns especialistas. Nessa nova acepção, considera-se, além das mudanças no âmbito biológico, as alterações psíquicas e sociais que afetam essa recém-mãe.

Estudos mostram vergonha e desinformação

Uma pesquisa realizada da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, acompanhou mulheres no pós-parto. De acordo com os especialistas, essas mulheres sabiam muito pouco sobre o puerpério. Por exemplo, metade delas relataram sentir dores semanas depois do parto, sem saber por quê.

Outra pesquisa da mesma universidade norte-americana descobriu que 20% das mães que apresentam algum tipo de transtorno de humor pós-parto não relatava seus sintomas nem ao médico que as acompanhava – hoje estima-se que cerca de 25% das mulheres sofram de depressão pós-parto, mas parece que os números podem estar abaixo da realidade.

Mudanças repentinas

As abordagens mais atuais sobre o pós-parto levam em conta, além da queda abrupta nas taxas de estrógeno e progesterona, outras questões que podem afligir essa mulher, e que, somadas, propiciam uma verdadeira “montanha-russa” de emoções. De uma hora pra outra, a grávida que recebia atenções de todos se tornou quase invisível. Aos olhos da sociedade, ela agora é só a “mãe do bebê”.

Pessoas querem ir a sua casa, mas não para saber como ela está, e sim para conhecer o recém-nascido. Ela, por sua vez, está às voltas com uma rotina intensa de cuidados com o pequeno, cansada ao extremo, muitas vezes sem dormir ou comer direito. Tem ainda a questão legal: o acordo de licença-maternidade, o inevitável retorno ao trabalho. Se não bastasse, essa mulher ainda se sente sozinha, muitas vezes distante até do companheiro.

“Como assim você não está feliz?”

É possível que as mulheres das gerações passadas – tias, mães, avós – não se recordem desse período de instabilidade emocional e talvez até o menosprezem, tratando os sentimentos da mãe de hoje como ‘frescura’, ‘ingratidão’, ou ainda reagindo com frases como ‘seu filho tem saúde, como assim você não está feliz?’. Além de nossa cultura não saber lidar com a tristeza, provavelmente essas mulheres, quando foram mães, tiveram negado o seu direito de mergulhar no puerpério”, analisa Marcia Belmiro.

Marcia continua: “Estar nessa montanha-russa não é opcional, a questão é o que fazer com ela para salvaguardar a si e ao bebê. Quando esse tema não é abordado apropriadamente, há o risco de mulher se sentir inepta, inadequada, incapaz de cuidar de seu filho. Quando, ao contrário, ela recebe informação e acolhimento, entende que isso é esperado, pode ficar mais tranquila para lidar com esses sentimentos e passar por esse período com mais serenidade.”

Fontes:

1 in 5 Women With Postpartum Mood Disorders Keep Quiet”. Disponível em: https://news.ncsu.edu/2017/08/postpartum-mood-unreported-2017/

Depressão pós-parto acomete mais de 25% das mães no Brasil”. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/depressao-pos-parto-acomete-mais-de-25-das-maes-no-brasil

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