Por: Marcia Belmiro | Educação | 23 de abril de 2020
“Podemos dizer que um indivíduo é mais inteligente que outro? Até a década de 1980, a ciência entendia que sim. Em 1906, Alfred Binet criou um teste cujo resultado, conhecido por Q. I. (quociente de inteligência), seria a medida da inteligência de um indivíduo. Atualmente sabemos que o Q. I. avalia apenas a capacidade de raciocínio lógico e não a inteligência em si, que é muito mais complexa que isso”, analisa a neuropsicóloga Adriana Santiago.
Oitenta anos depois de criado o teste de Q. I., o geneticista e neurocientista Howard Gardner criou a teoria das inteligências múltiplas, e redefiniu o conceito de inteligência como a “habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais”, usando o ponto de vista de um potencial biopsicológico. Isso significa que os seres humanos nascem com um potencial de inteligência biológico, e que o ambiente interfere no desenvolvimento ou não desse potencial.
Gardner definiu nove tipos de inteligência:
Naturalista: Sensibilidade para o entendimento da natureza e desenvolvimento de habilidades biológicas. Biólogos e naturalistas costumam ter esse perfil. Ex.: Charles Darwin, Richard Dawkins.
Musical: Competência para ouvir, compor e executar obras com intensidade e ritmo. Pode estar relacionada a outras inteligências, como linguística, espacial e corporal-cinestésica. Aguçada em compositores, maestros, músicos. Ex.: Mozart, Beethoven.
Lógico-matemática: Sensibilidade para ordenar e sistematizar padrões, levantar hipóteses, tirar conclusões, fazer premissas. Mais presente em matemáticos, físicos e pessoas que lidam com o raciocínio lógico. Ex.: Einstein, Isaac Newton.
Existencial: Facilidade para apreender as questões fundamentais da existência. Própria de líderes espirituais, pensadores e filósofos. Ex.: Nietzsche, Descartes.
Interpessoal: Capacidade de interagir de forma efetiva com outras pessoas, responder apropriadamente aos temperamentos, humores. Habilidade de compreender pessoas e motivá-las. Mais presente em políticos, vendedores, professores, psicólogos, coaches e líderes. Ex.: Gandhi.
Corporal-cinestésica: Capacidade de controlar o corpo com coordenação, precisão e habilidade. Mais presente em atletas, dançarinos e artistas. Ex.: Pelé, Ana Botafogo.
Linguística: Sensibilidade para o significado das palavras e funções da linguagem; para usar a linguagem de forma apropriada a transmitir ideias. Facilidade para aprender idiomas. Mais presente em poetas, escritores e pessoas que usam a linguagem de forma efetiva. Ex.: Machado de Assis, Shakespeare.
Intrapessoal: Capacidade de se conhecer, saber de si mesmo, e de habilitar os demais a se conhecerem também. Ex.: Virginia Woolf, Carl Jung.
Espacial:Percepção de mundo visual e espacial. Pensar de maneira tridimensional, criar, transformar e modificar imagens, se localizar e localizar objetos no espaço. Mais presente em arquitetos, escultores, navegadores e pessoas que operam com o espaço. Ex.: Oscar Niemeyer, Michelangelo, Aleijadinho.
Arte como artigo de primeira necessidade
Apesar de a teoria das inteligências múltiplas ter cerca de 40 anos, infelizmente ainda hoje vemos uma grande valorização dos talentos lógico-matemáticos em detrimento dos demais, inclusive no ambiente escolar. No entanto, neste momento que estamos vivendo, de isolamento social por conta da pandemia de coronavírus, o que as pessoas mais têm consumido é arte (música, dança, artes plásticas), o que deixa clara a importância desses profissionais para algo tão essencial quanto a saúde mental das pessoas durante o confinamento.
Quando a criança que tem outras habilidades que não a lógico-matemática desenvolvidas, o procedimento-padrão na escola é fazê-la estudar mais o que não tem facilidade. Ao subverter suas potencialidades, este jovem pode se tornar medíocre em tudo, desperdiçando seus talentos. Por outro lado, quando este indivíduo se sente seguro para simplesmente ser quem é, quando se sente confiante de seus talentos e potencialidades, pode alcançar o seu melhor.
O poder da crença em si mesmo
Estudos recentes apontam até que quando se valoriza o perfil natural da criança, o cérebro se amplia para lidar com menos dificuldade com aquilo que seria fora de sua natureza. Por exemplo: Um estudante gosta de música, tem criatividade e ritmo. Quando tem a oportunidade de dar vazão a esse talento, se abre uma oportunidade poderosa de autocrença e ele consegue assimilar sem tanta dificuldade os conteúdos de matemática ou biologia.
“É essa marca pessoal que nos torna únicos, e é assim que devemos entender os jovens, como seres únicos. Nosso modelo de ensino – e nós, como pais e professores –, tendemos a uniformizar os jovens. Queremos que uns sejam iguais aos outros, só que isso é impossível, são expectativas inalcançáveis”, afirma Adriana Santiago.
De modo geral, as instituições brasileiras ainda estão presas numa mentalidade conteudista, mas felizmente até o MEC já está se abrindo para mudanças (por exemplo, com a presença das habilidades socioemocionais na BNCC). Levando em conta que daqui a dez anos 80% das profissões que as pessoas vão exercer ainda não foram criadas, fica claro que a chave é se desprender do modelo de “decoreba” e se desenvolver ao máximo, de modo a conseguir se adaptar às novas necessidades inesperadas e imprevisíveis do mercado.
O que você, como professor, pode entregar de melhor para seus alunos, para além das matérias e das informações, levando-os a um nível superior de conhecimento – não só em termos de conteúdos determinados a passar, mas em uma acepção global?
Fontes:
Material integrante dos cursos de Formação Kids Coaching e Teen Coaching.