Quando iniciar o desfralde? Existe a hora certa padrão?
Por: Marcia Belmiro | Crianças | 26 de novembro de 2019
À medida que o filho vai crescendo, os dilemas se multiplicam. E um dos assuntos mais discutidos nos grupos de mães é o desfralde. Qual é a hora certa? É preciso esperar os sinais da criança? Quais são esses sinais? Adiantar o processo auxilia o desenvolvimento do pequeno? Existe idade máxima para o desfralde?
Uma pesquisa divulgada recentemente mostrou que no Brasil o desfralde total acostuma ocorrer mais cedo em relação a outros países: em média, aos 2 anos. No Estados Unidos, o desfralde diurno – que em geral é feito antes que o noturno – só termina por volta dos 3 anos. Olhando assim o resultado parece positivo, mas especialistas apontam que o desfralde precoce pode acarretar problemas para a vida toda.
Existe a hora certa?
De acordo com a maioria dos médicos, por volta dos 3 anos a criança consegue controlar os esfíncteres. Isso significa que há a prontidão neurofisiológica, mas ela sozinha não é suficiente. O desfralde pode ser, sim, natural – e é ideal que seja –, mas interferências do ambiente podem prejudicar o processo. Não há uma idade certa padronizada para iniciar o desfralde. Para saber o momento adequado, é preciso estar atento aos sinais que seu filho dá (veja mais nas orientações abaixo).
Nessa faixa etária ocorre o que a psicanálise chama de fase anal, um momento da vida em que a criança afirma seu eu por meio do controle corporal – incluindo aí o controle das fezes e da urina.
Se a criança tem uma educação muito controladora, ou na qual se associa os dejetos corporais a algo sujo, feio ou ruim, pode sofrer de prisão de ventre crônica sem que haja qualquer disfunção física ou desequilíbrio alimentar que a justifique. Se, por outro lado, é comum que essa criança fique com a fralda cheia por muito tempo, isso dificultará seu entendimento de que o mundo externo tem limites. Nesses casos o desfralde costuma ser mais lento, por exemplo.
O desafio da independência
O desfralde é um marco no desenvolvimento emocional e intelectual do indivíduo, um rito de passagem entre ser bebê e tornar-se criança. Essa mudança tão grande pode ser difícil para o filho e também para os pais, por tudo o que significa psiquicamente. Quando o desfralde é bem-sucedido, gera uma enorme satisfação na criança, que se sente capaz de passar por um desafio e viver uma nova fase, de alcançar as pequenas-grandes independências que ainda se sucederão ao longo da vida. Caso isso não aconteça, pode se sentir presa na fase anal, o que vai lhe gerar angústia.
Veja algumas orientações de Marcia Belmiro, psicóloga e criadora do Método KidCoaching, para um desfralde natural e sem sofrimento para a família:
– Se seu filho tem em trono de 3 anos e demonstra a intenção de desfraldar, pode dar início ao processo. Demonstrar a intenção, aqui, significa avisar sempre que sujar a fralda (ou até antes), passar períodos mais longos de fralda seca, pedir para usar o vaso ou o penico;
– O reforço positivo é fundamental. Quando a criança avisa que quer ir ao banheiro, mesmo que tenha acontecido um escape, é motivo de comemoração. Aos poucos ela vai sincronizando essas funções;
– As broncas e punições, por outro lado, são contraproducentes. Esse tipo de atitude gera medo e sensação de incapacidade na criança, o que pode atrapalhá-la a conquistar seu objetivo;
– No entanto, não é recomendado usar quadro de recompensas. Essa estratégia só funciona quando a recompensa (ou adesivo, ou estrelinha) é acompanhada de um elogio sincero recheado de afeto. Ou seja, o que ajuda a criança verdadeiramente é o elogio sincero, a atenção dada pelos pais. Lembrando que os elogios mais eficientes são aqueles focados no esforço e que empoderam a criança, não os baseados em características inatas (Ex.: “Você treinou bastante e hoje conseguiu. Deve estar orgulhoso de si mesmo”, em vez de “Você é tão lindo! Estou orgulhosa de você”);
– Tentar desfraldar uma criança antes da hora provavelmente gerará problemas. É o caso típico em que apressar só atrasa o processo – e dá muito mais trabalho para todos. A ideia é que seja um aprendizado baseado em habilidades adquiridas, não um adestramento;
– Cada criança tem o seu tempo. De cordo com os médicos, caso chegue aos 6 anos ainda com escapes, é preciso procurar um profissional de saúde.