Ferramentas virtuais: solução ou problema para o professor?

Ferramentas virtuais: solução ou problema para o professor?

Por: Marcia Belmiro | Educação | 20 de abril de 2020

A interação virtual entre pais, professores e alunos não é de hoje que gera dor de cabeça. Há casos de discussões que surgem nos grupos de WhatsApp e ganham importância tal que às vezes só se resolvem depois de convocada uma reunião de pais.

No momento atual, de escolas fechadas e isolamento social provocado pela pandemia de coronavírus, toda a comunicação entre famílias e escolas passou a se dar virtualmente. Além dos grupos que já existiam, foram criados outros para demandas específicas deste período. Sem contar com as aulas, que passaram a ser on-line.

Estes grupos são fundamentais numa situação de impossibilidade de contato físico, mas é necessário que todos os envolvidos estejam abertos a se reinventar, atentos a práticas para reduzir os atritos no coletivo e que, ao mesmo tempo, propiciem a continuidade do trabalho pedagógico e educacional que precisa ser desenvolvido.

Para dar orientações sobre esse assunto, convidamos a pedagoga e KidCoach Paula Camilo:

Os grupos podem ajudar demais neste momento, para que os professores possam manter uma relação positiva e saudável com os pais e os alunos. O que temos visto é que os professores que são KidCoaches e os professores atendidos por KidCoaches e estão usando as abordagens da metodologia nesses grupos estão obtendo ótimos resultados. Os professores usam os grupos para fazer acompanhamento, levando em conta as regras e combinados feitos previamente com os alunos.

Uma das coisas que vejo que não funciona é criar o grupo e não estar presente nele, trocando, compartilhando, ouvindo as questões dos alunos e pais e dando os retornos necessários. Para que o grupo funcione, o ideal é que tenha um objetivo claro, dependendo da necessidade desse sistema escolar – ou seja, o conjunto formado por direção, pais, professores e alunos. A estratégia do professor nesses grupos deve ser bem-definida e clara, inclusive em relação à gestão de tempo, com horários definidos para os encontros.

Uma grande dor dos professores neste momento é o medo do julgamento por parte dos pais. Uma coisa é dar a aula na escola, presencialmente. Existe toda uma dinâmica que se estabelece entre o professor e os alunos. Quando isso vai para as plataformas on-line, os pais passam a acompanhar recortes descontextualizados dessa interação, e nesse momento podem fazer julgamentos precipitados dos professores. E quando um responsável faz uma crítica à postura do professor no grupo de WhatsApp, isso pode se disseminar indevidamente entre os outros pais e mães, o que pode deixar o professor inseguro.

As orientações que dou para os professores neste momento são:

1- Em relação às aulas em plataformas do tipo Zoom: Se o professor tem um bom domínio de turma presencialmente, o mesmo não obrigatoriamente vai acontecer nas aulas on-line. A questão é que a maioria dos professores não tem experiência com essas plataformas, não sabe gerenciar essas ferramentas. Para minimizar este impacto, é recomendável conhecer previamente as plataformas a serem usadas, e se familiarizar com as tecnologias que vai usar para orientar o grupo, de modo a conduzir o trabalho de forma mais assertiva. Além disso, fazer o planejamento de aulas, envio de comunicados e tarefas levando em conta a especificidade dessas novas formas de interação;

2- As regras e combinados: sua importância neste momento é no sentido de manter a disciplina dos alunos e gerar um bom aprendizado, inclusive virtualmente. Uma ação que pode facilitar muito aqui e que pode fazer parte das regras e combinados é de todos manterem seus microfones fechados e só abrirem quando quiserem falar algo. Essa é uma ação simples, mas fundamental para não haver conversas paralelas.

3 (e mais importante)- Reduzir o tempo de aula. É muito diferente para a criança ter quatro horas de aula na escola e ter quatro horas de aula em casa, em que há pessoas fazendo outras atividades, barulho, outros estímulos. Quando uma criança é obrigada a ficar durante quatro horas na frente de uma tela tendo aula, vai resistir, vai chorar, seu entendimento é de que isso é como um castigo. Isso gera todo um estresse no ambiente familiar. Os pais, por sua vez, vão criticar a condução do professor e da escola. Considero que uma aula de 40 minutos a uma hora é mais do que suficiente neste contexto atual. Depois disso, o aproveitamento cai muito e se torna contraproducente. A chave aqui é priorizar a qualidade do conteúdo, levando os alunos a atividades após as aulas: leituras, resumos, fichamentos (ou seja, metodologias ativas de estudo, que vão colaborar para a consolidação do aprendizado).

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