Como conversar com as crianças sobre o coronavírus

Como conversar com as crianças sobre o coronavírus

Por: Marcia Belmiro | Crianças | 01 de maio de 2020

Nos grupos de mães, infinitos posts versam sobre como abordar a questão do coronavírus com as crianças. Algumas defendem que os pequenos não podem se alienar da realidade, e inclusive incentivam que assistam ao noticiário em família. Outras preferem poupar as crianças, respondendo o mínimo possível às perguntas infantis.
Com base em seus estudos teóricos e práticos sobre a infância, Marcia Belmiro dá orientações valiosas sobre como satisfazer a curiosidade natural das crianças sem gerar nelas pânico desnecessário.

Quer saber mais? Confira aqui:

1) Perguntar para a criança o que pensa e sente, e acolher esses pensamentos e sentimentos. Não é preciso fazer uma reunião de família formal para falar sobre a pandemia, se não o assunto pode parecer mais sério e pesado do que já é. Como a situação e as orientações oficiais mudam o tempo todo, vale a pena promover novas conversas.

2) Abordar com clareza todas as situações que você percebe que estão impactando no comportamento do seu filho: saudade dos avós, dos amiguinhos, da escola e da professora, necessidade de sair de casa, gastar energia, ver a natureza, medo dos efeitos da pandemia, medo da própria morte ou da morte de algum familiar.

3) A criança ainda não tem prontidão para fazer projeções de futuro sozinha, e aí entra a função de “alter neocórtex” dos pais. Nesta situação, os pais podem ajudar as crianças a fazer essas projeções, sempre com boas perguntas do tipo: “Como você acha que isso vai acontecer?”; “O que está imaginando?”; “Do que tem você medo?”

4) É importante dar explicações, e talvez seja necessário repeti-las muitas vezes. É difícil para a criança absorver tantas e tão grandes mudanças na rotina. Uma estratégia eficaz é os pais fazerem boas perguntas e deixarem os filhos responderem, pois isso ajuda no processo de assimilação (Ex.: Se a criança pergunta “posso visitar a vovó hoje?”, a mãe pode responder “você pode visitar a vovó neste momento?”. Provavelmente a própria criança vai responder “não, só depois que passar a quarentena”.)

5) No entanto, não é suficiente só dar explicações, agindo no sistema cognitivo da criança. Podem surgir angústias que não necessariamente passam pelo pensar, mas certamente passam pelo sentir. (Ex.: “Se não posso ver minha avó, o que mais pode acontecer?”)

6) O principal é trazer tranquilidade para as crianças, e isso acontece não quando os pais escondem a realidade e seus próprios sentimentos, mas quando nomeiam, checam e acolhem o que vem da criança. (Ex.: “Imagino que tudo isso esteja confuso para você, às vezes a gente pode sentir raiva, eu sinto raiva em alguns momentos. Você está com raiva?”)

7) O ideal é não assistir ao noticiário com as crianças. Na concepção delas, o repórter, com sua postura séria na bancada e falando palavras ininteligíveis, pode parecer quase um “bicho-papão”. Isso não significa alienar a criança, mas filtrar as notícias, explicando em uma linguagem de acordo com o entendimento do pequeno – sem mentir, mas também sem alarmismo.

8) Quando na família alguém tem sentido necessidade de ver noticiário o dia todo, vale a pena conversar com essa pessoa sobre como essa prática pode afetar não só as crianças, mas os próprios adultos. Ajude essa pessoa a buscar atividades que vão contribuir mais com a saúde mental de si mesma, como hobbies, filmes, livros, peças de teatro e visitas a museus virtuais.

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