Por: Marcia Belmiro | Carreira | 29 de maio de 2020
Você se sente cansado e sem energia desde a hora que acorda? Com frequência falta o trabalho porque julga estar doente? Durante o expediente, se sente desmotivado, emocionalmente sobrecarregado ou tem vontade de chorar? Tem tomado mais café para despertar ou bebidas alcoólicas para relaxar? Pensa nos problemas de trabalho mesmo nos fins de semana e nas férias? Constantemente se sente como se estivesse em um “beco sem saída” com tantos problemas que parecem impossíveis de resolver?
Se você respondeu sim à maioria das perguntas acima, é possível que esteja com síndrome de burnout, cuja definição dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.
Sintomas mais comuns
De acordo com o Ministério da Saúde, os principais sinais que podem indicar a síndrome são: cansaço excessivo (físico e mental), dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, dificuldade de concentração, alterações repentinas de humor, isolamento, fadiga, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais, alteração nos batimentos cardíacos, além de sentimento constantes de fracasso, insegurança, negatividade, derrota, desesperança ou incompetência.
Como se trata de um problema de saúde, o psiquiatra e/ou psicólogo são os profissionais indicados para identificar o problema e orientar a melhor forma de tratá-lo, conforme cada caso. Ainda segundo o Ministério da Saúde, muitas pessoas não buscam ajuda médica por não saberem ou não conseguirem identificar todos os sintomas da síndrome e, por vezes, acabam negligenciando a situação sem saber que algo mais sério está acontecendo.
Para se ter uma ideia da proporção que o burnout já tomou, em uma pesquisa realizada em nove países pelo International Stress Management Association, em 2019 o Brasil ocupava o 2º lugar em nível de estresse no trabalho, com cerca de 33 milhões de profissionais afetados pela síndrome.
Nos Estados Unidos, um estudo do Instituto Gallup em 2018, feito com cerca de 7.500 funcionários em período integral, constatou que 23% deles relataram se sentir esgotados no trabalho com frequência ou sempre, enquanto outros 44% relataram se sentir esgotados às vezes. Isso significa que cerca de dois terços dos trabalhadores em período integral sofrem desgaste no trabalho naquele país.
Perdas para todos
A síndrome de burnout não traz danos somente para o profissional que sofre com ela, mas também para a empresa. Ainda de acordo com o Instituto Gallup, funcionários esgotados têm 63% mais chances de faltar o trabalho por doença, e mais que o dobro da probabilidade de procurarem outro emprego (em relação aos demais funcionários).
Claro que os líderes organizacionais não querem que seus funcionários fiquem esgotados, mas por outro lado necessitam obter maior produtividade, então ficam na polaridade: excesso de cobrança x diminuir a cobrança, e entram num loop sem conseguir ver que a saída está no nível de satisfação e autorrealização que os colaboradores podem sentir na realização de suas atividades.
Aí vem uma falsa solução. Muitos creem que basta gerar motivação nas pessoas. Só que a questão não é motivá-los. Na verdade, de acordo com Marcia Belmiro, não é possível gerar motivação em ninguém. O processo motivacional acontece de dentro para fora.
Então fazer o quê?
A Coach e diretora técnica do ICIJ defende que os principais fatores que causam desgaste dos funcionários têm menos a ver com quantidade de horas de trabalho duro para obter alto desempenho, e mais a ver com a maneira como se dá a relação entre o profissional e a empresa. Empresas que estimulam seus colaboradores a serem criativos, que geram um ambiente de verdadeiro acolhimento às novas ideias, às opiniões divergentes, que criam condições para que seus profissionais realmente acessem seus melhores recursos internos e tenham espaço e condições para aplicarem seus projetos tendem a ter um baixo índice não só de burnout, mas também baixa rotatividade de funcionários, baixo absenteísmo por doença, entre outros fatores.
“Diferentemente do que crê o senso comum, a síndrome de burnout não surge pelo excesso de trabalho, mas pelo excesso de desestímulo que a pessoa sente pelo trabalho. Muitas vezes esse desestímulo está diretamente ligado à falta de consonância de crenças e valores entre funcionário e instituição. Esse quadro se mantém visto que a maioria das pessoas não conseguem perceber que estão sendo aviltadas em seus princípios básicos por desconhecê-los; por nunca terem parado para identificar qual a sua escala de valores pessoal e profissional, não conseguem ter claro para si mesmas do que ‘não abrem mão’ e o que as faz ‘saltar da cama todos os dias’. Sequer pensam sobre o assunto e seguem vivendo. Por isso continuam insatisfeitas e descontentes, independentemente do cargo, do quanto ganham, da equipe ou da empresa em que estejam”, analisa Marcia Belmiro.
Marcia orienta que tomar duas providências podem prevenir e até mesmo diminuir a níveis mínimos a síndrome de burnout nas empresas:
1- Ajudar o profissional a se situar no próprio universo, aumentando seu autoconhecimento e promovendo treinamento em habilidades interpessoais.
2- Promover a geração de um ambiente de estímulo à automotivação de cada colaborador, de modo que os líderes pratiquem um conjunto de ações tais como: acreditar genuinamente no potencial de realização das pessoas; despertar o interesse por tarefas desafiantes; proporcionar possibilidades de crescimento e desenvolvimento; sempre que possível compatibilizar projetos e interesses pessoais com os objetivos corporativos; e valorizar claramente os acertos.