Por: Marcia Belmiro | Adolescentes | 22 de novembro de 2019
Você nota que seu filho adolescente vive com o olhar frequentemente voltado para o celular, ausente da vida real? Que ele se conecta com amigos que moram longe, mas parece distante daqueles que estão perto? Que prefere ficar em casa, jogando, e mesmo quando sai parece estar em uma “realidade paralela”, sem reagir a estímulos externos?
Ele pode estar viciado em internet, uma condição que atinge atualmente 25% dos jovens brasileiros, de acordo com pesquisa feita pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) divulgada este ano. A explicação para isso pode estar nas características que constituem o adolescente, como analisam estudiosos do assunto:
“A autoimagem é muito importante na adolescência e muitos encontram nas redes sociais a aprovação e a popularidade que não encontram fora da internet”, diz Sheila Niskier, médica do adolescente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Eduardo Guedes, pesquisador e membro do Instituto Delete (primeiro núcleo do Brasil especializado em “desintoxicação digital”, integrante da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), completa: “Falar de si gera um prazer equivalente a se alimentar, ganhar dinheiro ou fazer sexo. E em 90% do tempo as pessoas estão falando de si nas redes sociais, com feedback instantâneo. Em uma conversa normal, em 30% do tempo normalmente se fala sobre si.”
Quando algo não vai bem
Guedes atende um número crescente de jovens em busca de ajuda no Instituto Delete. Lá é feita uma avaliação inicial, na qual se define se o indivíduo faz uso consciente da tecnologia – quando o virtual não atrapalha a vida real; se o uso é abusivo – quando atividades on-line são priorizadas em detrimento das off-line; ou abusivo dependente – quando o virtual atrapalha o real e há perda de controle.
Há um conjunto de cinco critérios para fazer esse diagnóstico. Confira:
1º – O quão importante o celular se tornou para trazer a sensação de “refúgio, prazer ou segurança”.
2º – A relevância da tecnologia no dia a dia, como levar o celular para o banheiro ou para a cama como regra.
3º – O nível de tolerância a eventos ou ambientes sem conexão.
4º – O comportamento em caso de “abstinência”, como mau humor, mãos tremendo, ansiedade, agressividade e tristeza quando a falta da tecnologia se concretiza.
5º – O quanto a dependência causa conflitos na vida real com pais, amigos e namorado(a).
Defendemos que é necessário respeitar o espaço de desenvolvimento do adolescente, conferindo-lhe a confiança necessária para que possa exercer suas próprias experimentações – inclusive no que diz respeito à inserção no universo virtual como fenômeno social regulador das relações humanas. Entretanto, deve-se manter cuidado e atenção com o jovem nesse processo delicado de construção identitária que ocorre no período da adolescência, para que ele possua sólidas bases de onde partirá para sua caminhada pessoal e singular enquanto ser-no-mundo.
Os pais, ao perceberem que algo vai mal na relação entre adolescentes e celular, devem, juntos, estabelecer uma vinculação rápida, verdadeira e intensa por meio de profunda amorosidade, sem julgamento nem sermões, mas antes com afeto genuíno, e assim ajudar o jovem a descobrir outras maneiras de obtenção de satisfação e prazer, auxiliando-o a se posicionar com segurança e autossustentação emocional às frustrações advindas do convívio humano.
Importante: Se for constatado que é realmente um caso patológico, de vício, é preciso buscar tratamento com profissionais de saúde, como psicólogos ou psiquiatras.