Como a literatura de qualidade pode ser aliada do professor?

Como a literatura de qualidade pode ser aliada do professor?

Por: Marcia Belmiro | Educação | 24 de junho de 2021

Todos concordam que é importante que as crianças se interessem pela leitura, mas não fica claro para grande parte dos educadores que o fato de ter livros à disposição não é suficiente para que os pequenos sejam estimulados a ler.

Em muitas escolas há centenas de livros na biblioteca, existe um projeto de ciranda do livro (em que as crianças levam histórias para ler em casa no fim de semana); ou seja, existe claramente a vontade da instituição para que os alunos sejam leitores, mas isso simplesmente não acontece!

Parece que os alunos de hoje vivem mais no mundo on-line que no off-line, e que os livros de papel, sem luzes nem botões coloridos, não atraem mais os pequenos. Nesse contexto desafiante, de que maneira a leitura de qualidade pode atuar como recurso pedagógico, colaborando para o desenvolvimento integral dos alunos?

Existem alguns equívocos muito comuns relacionados aos livros para a infância:

– O livro ilustrado é um livro bobo, “tatibitate”, algo a ser superado com a chegada da maturidade.

– Existem livros para meninos (sobre super-heróis, monstros, aventuras) e livros para meninas (com temática de princesas, bichinhos, tudo fofo e cor-de-rosa).

– O livro infantil tem que ensinar algo: coma seus legumes, obedeça seus pais. Parece uma lista de demandas a cumprir, não algo divertido e interessante.

– O livro infantil foi ultrapassado pelo celular, tablet, pelos aplicativos.

Livros como “espaço de invenção estética”

Em primeiro lugar, aqui usaremos a expressão “livros para a infância” em vez de “livros infantis”. Usando as palavras da autora e pesquisadora Aline Abreu, a ideia é falar de uma “literatura sem limitação de idade, na medida em que passa a ser percebida como espaço de invenção estética”.

Ou seja, são livros para a infância de todos: crianças e adultos. Um bom livro ilustrado pode ser entendido de várias formas, com várias camadas diferentes de significado, dependendo de quem o lê.

Uma criança é uma pessoa que está descobrindo o mundo, e ela o faz através da materialidade – também por isso é tão grande a importância do livro impresso. Por meio do contato com o livro físico, a criança pode perceber as coisas de maneira mais intensa.

A leitura e a criação da própria experiência

Devemos concordar que as telas têm um poder incrível de capturar a atenção das crianças, mas os livros podem ser ainda mais especiais, na medida em que, ao ler, o indivíduo pode criar a própria experiência – o que não ocorre no desenho animado, no filme ou no videogame, em que a experiência é entregue pronta, igual para todos.

Isso quer dizer que a televisão, o tablet ou o celular devem ser banidos? De modo algum, da mesma forma que não é possível separar os livros em “bons” e “ruins”, dado que essas são apenas opiniões individuais, que falam do gosto de cada um.

No entanto, podemos, sim, falar em livros literários, de qualidade. Essa classificação se contrapõe não aos livros “ruins”, mas aos livros com objetivo didático, “pedagogizante” – que ensinam a criança a desfraldar, mostram a importância de fazer exercícios ou dizer “obrigado”.

Para que serve o livro literário?

Os livros com objetivo didático têm sua função e seu público, e é justamente isso que os difere dos livros literários, que não têm uma função em si ou o objetivo de ensinar algo. São, ao contrário, apenas um espaço de fruição, de arte, de poesia (verbal ou imagética).

Nas palavras de Ricardo Azevedo, autor e pesquisador, em entrevista à revista Crescer em 2007: “Quando me perguntam para que serve a poesia, costumo dizer: Para que serve a saudade? Para que serve a vida? Será que cabe ter que achar uma função para tudo?”

A arte também não serve pra nada, não precisa ter um fim em si, a não ser para nos manter vivos – no sentido de “penso, logo existo” de Descartes, ou seja, eu só existo porque penso, porque sinto a vida, porque elaboro meus processos constantemente.

Vistos por essa perspectiva, os livros podem ser bem mais do que folhas de papel agrupadas, mas uma espécie de recurso terapêutico, um elemento de conexão consigo e com o ambiente.

Esse material é parte integrante do Programa de Formação Professor 2.0, que tem como objetivo instrumentalizar professores de todos os segmentos para uma abordagem alinhada às necessidades dos alunos de hoje em dia.

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Acesse e saiba mais: https://institutoinfantojuvenil.com.br/professor2-0/

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