Por: Marcia Belmiro | Filhos | 22 de fevereiro de 2021
Uma grande parcela dos estudantes – sejam eles crianças ou adolescentes – tem apresentado dificuldades na volta às aulas deste ano.
Algumas questões apontadas pelos jovens são: dificuldade na readaptação ao formato presencial (ou híbrido, como foi definido em algumas escolas), resistência a tantas novas regras (em especial no que diz respeito ao distanciamento). Algumas crianças e adolescentes não querem sair de casa – por várias razões, inclusive pelo receio de trazer o coronavírus para casa. Outras ainda se acostumaram a passar 24 horas por dia com os pais, e agora parece-lhes difícil fazer essa separação.
Sobre esse tema, Marcia Belmiro tem a dizer: “Quero ajudar as mães a pensarem em possíveis soluções. Sem julgamentos, sem dizer que determinada condução é certa ou errada, tampouco quero dar uma solução pronta. Julgar ou determinar a resposta ao problema são abordagens que não levam ao fim do problema, ao contrário, só deixam as mães mais confusas. Novas realidades exigem novas soluções. Essas realidades nas quais estamos imersos hoje nos propõem encontrar novas saídas. Do contrário, ficaremos paralisados, no pensamento de que ‘não tem jeito mesmo’, o que não é proveitoso para ninguém.”
Muitos pais têm dito: “meu filho se recusa a ir pra aula”, “não quer voltar para a escola da qual gostava antes da pandemia”. Ou ainda: a criança que está na sala de aula reclama que o amiguinho está em casa e ainda usando pijama, enquanto ela está de uniforme. Ou que o amiguinho está tomando todinho enquanto ela está comendo a merenda da escola.
Soluções possíveis
A realidade: há crianças que não estão se adaptando também ao on-line, outras que não estão se adaptando ao presencial, outras ainda que estão com dificuldade com o sistema híbrido. Estamos diante de uma situação que tem uma diversidade de causas, de componentes e de pessoas envolvidas, portanto requer o envolvimento de todos: pais, alunos, professores, diretores, orientadores pedagógicos, para a partir daí encontrarem suas soluções.
Essas questões vão demandar algo mais intenso no que diz respeito a conversas – tanto dentro da escola quanto em casa, para trazer à tona o que as crianças estão pensando e sentindo. Situações complexas como essa que estamos vivendo não têm uma única solução. Vão exigir uma multiplicidade de visões, de percepções, de mudanças, de alternativas para que a gente chegue a um bom termo para todos.
Não temos certeza sobre quais decisões vão dar certo. A única certeza que temos é que conversar abertamente sobre as situações, incluindo crianças e adolescentes nesse debate, poderá trazer maior clareza sobre medos, angústias, ansiedades e aflições de todos os lados: de professores, pais e alunos.
Essa conversa tem que ser diferente. Não dá pra ser a conversa professoral do tipo: “você tem que fazer isso”, tampouco a conversa da barganha: “se você se comportar direitinho na aula, te dou um presente”. Essas conversas funcionam mal, ou por pouco tempo, ou ainda – o que é mais comum – simplesmente não funcionam.
Diálogo em casa
Nessa conversa conjunta, os pais dizem o que está havendo, trazendo clareza ao filho, chamando ele a buscar soluções. Exemplo: “Este ano letivo vai ser de rodízio, você vai estar alguns dias em casa e outros na escola, pode ser que um dia você esteja na escola, de uniforme, e seu colega esteja em casa, de pijama. Como você vai fazer para lidar com isso?”
Marcia Belmiro garante: “Você vai se surpreender, pois as crianças e os adolescentes encontram soluções, inclusive mais efetivas do que qualquer coisa que você diga, já que essa é uma realidade que diz respeito a eles. Em vez de perder tempo e energia resolvendo os problemas do seu filho, criando soluções prontas para ele, dê espaço, crie um ambiente para que ele possa lidar com essas questões. E só existe uma maneira de fazer isso: conversando.”
O que estamos vivendo não é culpa de ninguém: nem sua, nem do professor, nem da escola, tampouco do seu filho. Temos uma tendência a buscar culpados diante de uma situação difícil, mas isso não nos leva a lugar algum. Apenas olhe para as situações, junto do seu filho, de maneira profunda. Isso poderá ajudar vocês. Existem alternativas, e elas podem ser encontradas.
Marcia traz uma reflexão: “Compreendo que a essa altura você está exausta de um ano inteiro mediando aulas on-line, tarefas de casa, além do seu próprio trabalho e das demandas domésticas. E constato que pode ser, sim, necessário mandar as crianças para a escola por diversas razões, inclusive para ter algumas horas de silêncio em casa. Acontece que se isso não é falado claramente, os filhos podem entender isso como abandono, falta de amor.”
Marcia continua: “Apenas seja clara sobre o seu amor, e diga as coisas com sinceridade ao seu filho. Do tipo: ‘Preciso que você vá para a escola, porque enquanto você está lá eu consigo trabalhar. Isso não significa que te amo menos. Nós podemos nos amar a distância.’ É a maneira como vamos conduzir as emoções e comportamentos dos nossos filhos que podem nos dar mais tranquilidade e facilitar essa adaptação – nada simples – dos nossos filhos nessa nova escola, nesses novos padrões que estão sendo construídos, descobertos e vividos por todos nós.”