Meu filho pega coisas que não são dele, o que fazer?
Por: Marcia Belmiro | Crianças | 05 de agosto de 2020
Uma canetinha diferente apareceu na mochila do filho. Os pais, alarmados, já pensam em mil coisas ao mesmo tempo: “será que isso já aconteceu outras vezes e não percebemos?”, “o que significa?”, “devemos dar uma bronca e deixar de castigo?”, “é preciso buscar ajuda de um psicólogo?”, e o pior dos pensamentos: “meu filho é um ladrão?”.
“Até os 4-5 anos, a criança ainda não tem a noção clara de bem e mal, e portanto não há essa percepção de furto. Nessa fase, a criança pode pegar o que não é seu porque gosta de determinado objeto e quer tê-lo para si, simplesmente. Nesse caso não há razão para se preocupar. Mas os pais não devem ser indiferentes ao fato, tampouco tratá-lo com demasiada severidade. É importante conversar com a criança, explicando que as pessoas se sentem tristes quando ficam sem algo de que gostam. Além disso, incentivá-la a devolver o objeto e pedir desculpas”, orienta a psicóloga Adriana Campos.
Depois da primeira infância, quando já passou a fase de egocentrismo natural, as crianças podem ter esse tipo de comportamento já sabendo que se trata de algo errado mas, como pequenos cientistas da vida cotidiana que são, é possível que queiram testar o que acontece como consequência. Outra hipótese é que este seja um pedido (inconsciente) de limite por parte dos pais.
Quando é um problema?
Uma minoria dos casos pode ser, sim, preocupante. Estima-se que entre a população adulta a prevalência de cleptomaníacos seja de 5%, e os casos entre crianças são ainda mais raros. No entanto, os pais precisam sempre estar atentos aos sinais de que há algo errado.
No artigo “Cleptomania: quem roubou o meu afeto”, Otacílio José Ribeiro discute a cleptomania infantil. O psicanalista cita Winnicott ao afirmar que “a criança que rouba algo não deseja o objeto roubado, e sim a mãe sobre a qual acredita ter direito”. Ele explica que a cleptomania é designada como roubo impulsivo. “Para a psicanálise, esse é um mecanismo de autocompensação de origem psíquica, que pode começar na infância, no momento em que o indivíduo se percebe em um contexto de falta de afeto, que acaba gerando uma ansiedade desenfreada, culminando no desencadeamento da situação patológica, na qual prefere ser punido a ser ignorado.”
Independentemente da situação, especialistas como Marcia Belmiro orientam os pais sobre o fato de que a punição é uma medida ineficaz. “Castigos ou humilhações (especialmente públicas) não promovem entendimento nem mudança de comportamento. Pelo contrário, quando os pais agem dessa forma a criança pode ‘carregar’ isso até a idade adulta como uma questão não resolvida. Ao perceberem que o filho pegou algo escondido de alguém, é importante conversar com ele e tentar entender qual necessidade de afeto não atendida motivou a ação. De modo geral, isso faz com que tal comportamento não tenha mais necessidade de ser repetido. Caso não resolva, o ideal é buscar ajuda especializada com um psicólogo infantil”, orienta Marcia.