Por: Marcia Belmiro | Crianças | 02 de dezembro de 2019
Qual é o papel do pai? Essa questão, que até bem pouco tempo tinha uma resposta fácil, vem sendo verdadeiramente discutida hoje pela nova geração de pais. Esses homens não se contentam em dar o que receberam dos pais na própria infância – contas pagas, brincadeiras no fim de semana, broncas quando algo dava errado.
Os representantes da nova paternidade dividem com as parceiras as tarefas da rotina (trocar fraldas, fazer comida, limpar a casa), mas vão além: sabem o tamanho da roupa dos filhos, participam do grupo de WhatsApp da escola, leem sobre formas de educar com respeito. Ao agir assim, esses homens ganham mais do que olheiras: ganham a oportunidade de ser parceiros dos filhos na aventura de crescer, ensinando mas sobretudo aprendendo, juntos, todos os dias.
Tiago, pai dos gêmeos Rafael e Tomás, faz parte desse time da paternidade ativa. Ele conta um pouco de sua vivência em pouco mais de quatro anos no papel de pai:
“Na nossa casa, as atividades são divididas de acordo com as possibilidades de cada um, inclusive a carga mental de planejar (das compras de mercado às férias), mas fazemos mudanças sempre que há necessidade. Como toda relação entre pessoas, a que tenho com meus filhos é uma construção diária. Vejo que desde que eles nasceram já criamos uma relação de confiança – que é bem diferente da dependência instintiva que a criança tem do adulto. Meu pai sempre teve um papel de porto seguro, dizia ‘se você precisar, me chama’. Isso foi importante para mim, mas hoje tento ser uma referência mais ativa, de estar presente tanto nos momentos de alegria quanto de angústia. Quando soube da gravidez da minha esposa, já me sentia pai. Começamos a estudar e a discutir que tipo de pais queríamos ser. Fui criando vários conceitos e expectativas. Mas logo no início tive que aprender a lidar com situações que não imaginava: meus filhos nasceram prematuros e foram para a UTI, e minha esposa também precisou ser internada. Na noite depois do parto, voltei para casa sozinho, e foi a primeira vez que me vi sem qualquer controle do que estava acontecendo. Aos poucos, fui aprendendo a resolver as situações inesperadas, até aparecer a próxima situação inesperada. Aprendi a pedir ajuda, a oferecer ajuda, muitas vezes desabamos juntos. Se pudesse aconselhar um homem que vai ser pai, diria para segurar a mão da parceira nesse tsunami pós filhos, porque uma hora o mar acalma, mas se o casal não estiver junto, vai cada um pra um lado. Acho que ser pai é 97% de loucura e 3% de êxtase, mas com certeza vale a pena.”
A vivência parental pode ser sacrificante, repleta de brigas e acúmulo de funções para um dos lados. Ou pode ser plena de desenvolvimento pessoal para todos – é uma escolha, que pode trazer alegrias e aprendizados para pais e mães. Os homens podem e devem se dar o direito de experienciar esse papel de potência, autodescobrimento e afeto. E, assim, haverá o dia em que, nas rodas de pais, além dos esportes e da política, os filhos também serão um assunto normal – e isso vai ser lindo.