Por: Marcia Belmiro | Crianças | 28 de dezembro de 2020
Seu filho não respeita as regras da casa? Fica o tempo todo tentando burlar as suas orientações? Ignora quando você diz não para algum pedido e corre para solicitar a mesma coisa ao pai?
Esse tipo de situação é muito comum quando os pais divergem na educação dos filhos. Quando isso acontece, em pouco tempo a criança percebe que, se um dos adultos não permite algo, ele pode simplesmente pedir ao outro que vai conseguir o que deseja.
De acordo com Marcia Belmiro, essas divergências em geral estão presentes desde o início do relacionamento, mas se tornam mais prementes com a chegada dos filhos. Ela analisa que um dos motivos mais comuns para isso é cada um trazer para o novo núcleo familiar a educação, os valores e costumes da família de origem.
“Em geral as pessoas acreditam que o que trazem de casa é o ‘certo’, mas é possível abrir o olhar para perceber que existem outras possibilidades. Isso vale para questões de rotina e também para assuntos importantes”, aponta Marcia.
Por isso, é fundamental que quando o casal decide ter um filho haja uma conversa clara previamente, assim será possível ajustar os ponteiros quanto à criação que desejam dar à futura prole. Quando não existe esse espaço na relação, mais chances há de que ambos tentem trazer – mesmo que inconscientemente – os mitos e rituais da família de origem, em vez de criar seu próprio modus operandi.
“Somente quando deixamos nosso papel de filhos necessitados de proteção e aprovação, quando deixamos nossos pais livres do nosso julgamento, é que conseguimos ser pais inteiros para nossos filhos”, orienta Marcia Belmiro.
Em outras palavras: a melhor configuração da família se dá quando ambas as partes do casal já adquiriram autonomia – não só financeira, mas principalmente emocional – dos próprios pais, pois assim serão capazes de inaugurar psiquicamente a própria família. Isso se dá quando é estabelecida uma fronteira entre as famílias de origem e a família em formação, e esse é um passo a ser dado pela nova geração.
Podem existir muitas formas de fazer a mesma coisa, de criar um filho saudável, ético e comprometido consigo e com aqueles que o cercam. E quando nos permitimos isso, muitas coisas boas podem acontecer. Ao liberar espaço mental para que outro cuidador tome a frente na administração de determinadas tarefas, podemos nos concentrar mais em nós mesmas, em nossos sonhos e prazeres cotidianos. A outra consequência disso é que abrimos caminho para o aumento da conexão entre a criança e a outra figura parental, o que vai ser positivo para toda a família.
O ideal é na medida do possível chegar a um acordo sobre qual o melhor estilo a seguir. Isso é importante para a criança, que está vivendo um processo no qual busca entender “como funciona o mundo”: quais são as práticas bem-vistas e malvistas naquele núcleo, o que é negociável e o que não é.
O que não adianta: Discutir na frente dos filhos ou desautorizar o parceiro, permitindo que a criança faça algo que acabou de ser negado por ele. Outra atitude inoperante é fingir que não existe um problema. Agir assim não vai resolvê-lo, pelo contrário.
Provavelmente no começo vai ser difícil tocar em assuntos espinhosos, que às vezes ficam escondidos debaixo do tapete por muito tempo. Mas se o processo é conduzido de forma respeitosa pelas duas partes (de maneira privada, longe das crianças), a tendência é que vocês saiam dessa ainda mais fortalecidos como pais – independentemente de serem um casal ou não.
“É importante pontuar que, assim como você, seu companheiro só quer o melhor para o filho – mesmo que não pareça sob o seu ponto de vista. Tendo isso em mente fica mais fácil ouvir a opinião do outro de coração aberto, sem ficar pensando em vencer o embate ou ser a pessoa que tem sempre razão”, conclui Marcia.