Voltar ao trabalho após o parto: escolha ou necessidade?
Por: Marcia Belmiro | Crianças | 25 de setembro de 2019
O bebê nasceu e você passou meses na função exclusiva de conhecer aquele pequeno ser, alimentando-o e embalando-o, ao mesmo tempo que se reconectava com seu novo ser-mãe. Foi exaustivo, foi incrível, foi maravilhoso e insano. Agora é hora de dar o passo seguinte: voltar ao trabalho. Como?
Numa pesquisa feita em 2016 que deu origem ao artigo “Maternidade e trabalho: Associação entre depressão pós-parto, apoio social e satisfação conjugal”, 83% das mulheres entrevistadas relatam preocupação com a expectativa de retorno ao mercado após ter filhos. O motivo mais citado por elas, com 47% de prevalência, foi o receio da perda do vínculo com o bebê.
Marcia Belmiro – mãe, avó e criadora do Método KidCoaching – considera fundamental que essa mulher saia do “piloto automático” ao fim da licença-maternidade e se dê um tempo para refletir verdadeiramente sobre o que será melhor para seu desenvolvimento profissional e pessoal.
“A grande questão aí é: ‘Onde eu quero estar?’ Se você é realizada em sua carreira e quer voltar ao emprego, não se culpe. Se há o desejo de sair do mercado de trabalho, pelo menos o formal, essa pode ser a hora de encontrar satisfação de outra forma – seja como mãe em tempo integral ou tirando do papel os sonhos engavetados”, analisa Marcia.
Caso a mãe decida que vai enveredar por outro caminho profissional, é preciso planejamento. “É o momento de negociar com o companheiro e com sua própria conta bancária. A rede de apoio também é fundamental – lembrando que pai não é rede de apoio, rede de apoio é quem ajuda. E pai não ajuda, pai cria.”
Conheça a história de Flávia Pontes, que fez sua transição de carreira e hoje trabalha como KidCoach:
“Sou formada em Contabilidade e Educação Física e trabalhava com planejamento estratégico… até a chegada da maternidade. Há quase quatro anos nasceu o Heitor e, quando me tornei mãe, logo comecei a pensar em um trabalho que me permitisse estar perto dele, mas ao mesmo tempo ser realizada profissionalmente. Foram anos nessa busca, até que um amigo me falou sobre o Kids Coaching. Já tinha interesse pelo universo infantil e nos últimos anos passei a conviver com outras mães e ver suas dores, dificuldades e desafios. Ao assistir aos primeiros vídeos já me encantei, e antes mesmo de fazer a formação já me imaginava trabalhando nisso. Em janeiro deste ano fiz o Kids Coaching Presencial – foram dias maravilhosos, nos quais reafirmei para mim mesma como estava no caminho certo. Desde então atuo como KidCoach e cada vez mais tenho certeza da minha escolha. Plantar essa sementinha em cada família com a qual tenho contato – e na minha própria família – é uma grande satisfação, além de poder conciliar horários e acompanhar de perto o crescimento do meu filho. Sem palavras para descrever o quanto sou feliz hoje.”
Alguns dados do mercado de trabalho para mães
Segundo pesquisa divulgada em 2017 pela consultoria Robert Half com 1.775 diretores de recursos humanos de 13 países, sendo 100 brasileiros, no Brasil, em 85% das empresas, menos da metade das funcionárias retorna à vida profissional após o nascimento de seus filhos. A taxa é bem mais alta que a média global.
Outra pesquisa realizada pela agência de vagas Catho também de 2017 constatou que as mães brasileiras se sentem mais impelidas a sair do mercado em relação aos pais. Entre 13.161 profissionais entrevistados, 28% das mulheres e 5% dos homens abandonaram a vida profissional depois do nascimento dos filhos. Elas também demoraram mais a retomar a atividade profissional: 21% das mulheres levaram mais de três anos para voltar ao mercado de trabalho. Já entre homens, a porcentagem se limitou a 2%.
Um estudo publicado em 2017 na American Sociological Review e na Harvard Business Review comprovou que as mulheres são desmerecidas em processos de recrutamento pela possibilidade de serem mães, mesmo que essa possibilidade nem esteja em seus planos. A partir de dois currículos fictícios enviados a 316 escritórios de direito dos Estados Unidos, os pesquisadores constataram que os homens têm três vezes mais chances de serem recrutados do que as mulheres.