Por: Marcia Belmiro | Crianças | 04 de janeiro de 2021
Quando você sai à rua com seu filho, a frase que mais ouve é “eu quero”, seguida de gritos, choro, birra e pirraça? Saiba que você não está sozinha. Muitas mães se preocupam com essa atitude consumista das crianças, mas não sabem como ajudá-las.
Uma das maiores causas para esse comportamento generalizado é a publicidade voltada para os pequenos. Quem não lembra da propaganda das tesouras do Mickey e da Minnie, no início dos anos 1990, em que um menino passava 15 segundos repetindo a frase “eu tenho, você não tem”?
Esse comercial foi um marco na história da publicidade brasileira, e acendeu uma luz para o fato de que a publicidade voltada ao público infantil poderia ser muito prejudicial para as crianças.
De lá para cá, ONGs e membros da sociedade civil iniciaram um movimento de pressão para exigir regras mais rígidas no controle à divulgação de produtos para crianças. O grande desafio hoje, eles dizem, é endurecer as regras da publicidade na internet.
A iniciativa Criança e Consumo, braço do Instituto Alana criado com o objetivo de minimizar e prevenir o consumismo na infância, divulga dados alarmantes:
– Um terço das pessoas que acessam a internet em todo o mundo são crianças. (Fonte: Unicef)
– Em 95% dos vídeos no YouTube voltados para crianças até 8 anos há alguma forma de publicidade ou pelo menos dois anúncios que interrompem o conteúdo. (Fonte: Pesquisa do Common Sense Media em parceria com a Universidade de Michigan)
Marcia Belmiro aponta outra fator que colabora para essa situação: “Na família contemporânea, as crianças se encontram fragilizadas e enfraquecidas devido à necessidade dos pais de agradá-las demasiadamente para compensar o fato de que sua jornada de trabalho os impede de dar a atenção necessária aos filhos. Com isso, essa sociedade cria mecanismos compensatórios na busca de poupar a criança da ausência afetiva e educativa dos pais.”
Entre esses mecanismo, Marcia cita: permissão de tempo excessivo de uso de telas; permissão de atividades sociais que não seriam próprias para a criança; fornecimento de brindes e presentes frequentes; permissão de alimentação inadequada e em horários impróprios; permissão de extensão do horário de brincadeira em vez de dormir, dentre outros.
Como consequência disso, vemos crianças vivendo um fácil descarte de bens de consumo, juntamente com uma forte necessidade de obter produtos exageradamente anunciados como sendo a única forma de se inserir socialmente. Essas crianças passam a sentir falta de algo que de fato não faz falta em sua rotina, exigindo bens de consumo às vezes até bem caros, como um iPhone último tipo, porque os amigos já adquiriram. Desta forma, as reais necessidades da infância como troca, brincadeira, afeto, ar livre vão sendo deixados de lado.
A esse respeito, Marcia faz um alerta: “Querer agradar a criança por conta da falta de convivência poderá dificultar, posteriormente, o entendimento do jovem quanto às relações que não envolvam trocas materiais, mas sim trocas afetivas, e principalmente impedir que o jovem estabeleça um processo natural autorregulatório nos cuidados sobre sua saúde física e emocional.”
Como os pais podem lidar com isso?
– Permitindo a frustração das crianças, de modo a ajudá-las a aprender como lidar com as consequências de desejos não conquistados. Assim, ainda que contrariadas, serão capazes de prosseguir e encontrar novas soluções para os inevitáveis impasses que a vida traz e trará.
– Ensinando valores e auxiliando as crianças a descobrir o que lhes traz real e efetivo bem-estar; o que podem ter de produtos que são verdadeiras necessidades e o que ultrapassa a linha tênue entre o uso e o abuso do dinheiro e do consumo.
– Refletindo sobre quais produtos os pais podem financeiramente oferecer aos filhos, estimulando a atitude de celebração com o valor de cada conquista, e mostrando às crianças que mais do que “não se pode ter tudo”, vale a máxima “não há necessidade de se ter tudo”.
– Escolhendo e ajudando os filhos na escolha dos produtos, para que os bens adquiridos sejam um canal de produção de conhecimento, de aprendizado, de lazer em conjunto com outras pessoas, de convivência em família, de oportunidade de crescimento emocional e cognitivo etc.
– Ensinando os filhos a valorizar o que têm, e não o que não têm. Dessa forma, eles não ficarão com a sensação de falta, e sim com a de presença.
Fonte:
Caderno de Práticas e Novidades, parte integrante do programa de formação Kids Coaching.