Coronavírus: Medos e ansiedades 3

Coronavírus: Medos e ansiedades 3

Por: Marcia Belmiro | Carreira | 17 de julho de 2020

Na sequência de artigos sobre como lidar em sala de aula com os medos e ansiedades pós-pandemia, neste texto vamos abordar práticas, atitudes e ações úteis que os professores podem adotar nesse contexto.

No artigo “Psicologia nas emergências: uma nova prática a ser discutida”, Paranhos e Werlang citam Seligman (2002), em seu estudo sobre os sobreviventes da Segunda Guerra. As pesquisadoras acreditam que a questão do trauma advindo de acontecimentos carregados de sofrimento (tal qual uma guerra ou uma pandemia) deve ser considerada, porém o trauma “não pode ser encarado como a única possibilidade por quem enfrenta um desastre. Pelo contrário, estas situações ocorrem quando o desfecho é negativo, e não são a maioria”. Mencionando Caplan (1964), o precursor da Teoria da Crise, lembram que “a resolução também receberá influência dos recursos pessoais do sujeito e dos recursos sociais que estão disponíveis”.


Aumento do bem-estar

No trabalho “Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19)”, Schmidt et al. analisam que “as intervenções psicológicas devem ser dinâmicas e, primeiramente, focadas nos estressores relacionados à doença ou nas dificuldades de adaptação às restrições do período”.

Entre as estratégias de promoção de bem-estar psicológico, as pesquisadoras listam: a organização da rotina de atividades diárias sob condições seguras, cuidado com o sono, prática de atividades físicas e técnicas de relaxamento (Banerjee, 2020); fortalecimento das conexões com a rede de apoio social (Shojaei & Masoumi, 2020); cuidado com a exposição excessiva a informações, incluindo noticiários na televisão e em outras mídias (Barros-Delben et al., 2020); e checagem da veracidade das informações (Bao et al., 2020); manter contato frequente, durante os intervalos no trabalho, por meio de telefonemas, mensagens de texto, áudio e vídeo (Chen et al., 2020); e, em caso de necessidade, buscar intervenção psicológica.


Dicas de autocuidado

Na “Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia”, criada em parceria pela PUCRS e PUC-Campinas, há orientações valiosas, como:

Caso você perceba que está com dificuldade para seguir seu cronograma e resolver suas tarefas, evite uma postura julgadora ou crítica consigo mesmo, afinal é uma fase de adaptação para todos. Tente entender os motivos que fizeram você não seguir seu planejamento, e busque alternativas para os próximos dias.

Uma boa dica para manter o foco é estabelecer pequenas recompensas após a finalização de cada tarefa, como assistir a um episódio de sua série favorita ou ficar alguns minutos com seu animal de estimação. Usar alimentos como recompensa pode não ser a melhor opção.

Sentir raiva ou ter pensamentos negativos repetitivos (ex.: relembrar mágoas), não são atitudes que ajudarão neste momento. Identificar culpados pode gerar ressentimentos. Pensamentos negativos e pessimismo, além de levarem à falta de ação, podem desencadear consequências negativas para a sua saúde física e mental, e das pessoas à sua volta. Sugestões: Caso você esteja se sentindo dessa forma ou tendo pensamentos desse tipo, preste atenção em que momentos eles aparecem. Encontre uma forma de tolerar esse desconforto, tendo em mente que pensamentos e sentimentos podem não representar totalmente a realidade.


Como ajudar as crianças

A cartilha aborda especificamente formas de lidar com os indivíduos mais vulneráveis – como crianças, idosos e quem já tem problemas de saúde – que em situações como a que estamos vivendo podem ficar mais ansiosos, zangados, agitados, retraídos ou muito desconfiados:

Ajude-os a expressar como estão se sentindo – falando, desenhando, cantando, contando histórias, brincando – e ouça sem criticar.

Forneça instruções claras, de forma bem simples e objetiva. Tenha (muita) paciência – evite gritar ou ser ríspido – essa situação é difícil para todos!

Na volta às aulas, é muito importante que o professor possa criar de um ambiente acolhedor em sala de aula, de modo que os alunos se sintam à vontade para expressar suas emoções livremente. Assim, ele estará facilitando o aprofundamento de laços solidários entre a turma para apoio mútuo na superação de emoções difíceis”, orienta Marcia Belmiro.


Marcia sugere ainda uma
lista de atividades que podem ser feitas por professores e alunos após a pandemia. Confira:

Escrever cartas estruturadas para si mesmo falando dos sentimentos e pensamentos;

Crianças escreverem sugestões do que outras pessoas podem fazer para conseguir lidar com as dores e perdas que tiveram durante a pandemia;

Crianças fazerem vídeos dizendo o que pode ajudar as pessoas a conseguirem sorrir e se alegrar de novo;

Criação de redes de apoio mútuo para falar sobre o que quiser e também sobre os sentimentos e pensamentos que tiveram durante a pandemia, e sobre os pensamentos e sentimentos que ainda carregam agora;

Realizar diariamente pelo menos uma ação para gerar proximidade com pelo menos duas pessoas que sejam importantes para si;

Fazer desenhos que expressem como as crianças se sente;

Criar histórias em grupo sobre como se sentiram e ainda se sentem ou sobre os acontecimentos vividos;

Criar músicas e dramatizações que favoreçam a expressão de ideias e emoções vividos durante a pandemia e depois dela;

Anotar as vezes que os sentimentos de raiva, medo etc. aparecem, e conversar sobre isso com alguém que seja mais positivo/otimista;

Anotar tudo o que aprendeu de novo e diferente durante esse tempo que ficou em casa, desde dividir mais as tarefas de casa a fazer festas virtuais.

Fontes:

Psicologia nas emergências: uma nova prática a ser discutida”. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932015000200557

Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19)”. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2020000100501&lng=en&nrm=iso#B49

Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia”. Disponível em: https://www.puc-campinas.edu.br/wp-content/uploads/2020/04/cartilha-enfrentamento-do-estresse.pdf.pdf

Gostou deste artigo? Confira o primeiro e o segundo textos desta série aqui https://institutoinfantojuvenil.com.br/coronavirus-medos-e-ansiedades/ e aqui: https://institutoinfantojuvenil.com.br/coronavirus-medos-e-ansiedades-2/


   
   

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